Desafios do novo presidente

Cláudio Sá Leitão e
Luís Henrique CunhaConselheiro pelo IBGC e sócio da Sá Leitão Auditores e Consultores.

Publicação: 23/10/2018 03:00

Tivemos o 1º turno das eleições no último dia 7 e uma das marcas foi a importante renovação no quadro dos congressistas. Políticos tradicionais perderam mandatos e partidos importantes viram suas bancadas encolherem. Essa renovação teve como pano de fundo, desde a reivindicação por melhorias nos serviços públicos, chegando nas manifestações de repúdio à corrupção. De um lado, o desejo de renovação e do outro, um aparente sentimento de vingança contra caciques incrustados em Brasília há décadas. No próximo domingo (28), teremos o 2o turno e escolheremos o novo Presidente do Brasil, para os próximos quatro anos. O candidato Bolsonaro foi quem se apresentou para o eleitorado com um discurso hipotético de mudança. Ele soube explorar as redes sociais, as quais se mostraram essenciais para manter a fidelidade dos eleitores. A sua imagem de “antipetismo” foi o motor que impulsionou sua campanha, mesmo com seu pouco tempo de televisão. Como passou a maior parte do tempo no hospital e em casa, esta eleição poderá ser vencida por um candidato praticamente virtual. Não é de hoje que o sentimento predominante do povo brasileiro se traduz em desencanto, em decepção e em insatisfação com a classe política e com a qualidade dos serviços públicos em termos de saúde, educação e segurança e no combate à corrupção. Há um horizonte de dificuldades pela frente, haja vista a penúria em que os estados vivem, em face de grave crise fiscal e econômica, onde enfrentam um quadro de desequilíbrio das contas públicas com despesas crescentes, apenas para manter a estrutura funcionando. Os estados do nordeste sofrem ainda mais na recessão, pois o peso do setor público na economia é importante. As obras de infraestruturas estão paralisadas e os dois principais setores que puxam o crescimento do mercado de trabalho (construção civil e comércio) não estão se recuperando. O candidato vencedor terá que promover um ajuste fiscal forte, com uma reforma justa da previdência e redução da máquina pública, conduzindo bem a economia para proporcionar maior força à iniciativa privada, além de demonstrar ser um bom articulador junto às classes empresarial e política e ao poder judiciário. Caso o candidato melhor posicionado nas pesquisas seja eleito, um dos seus grandes desafios será o de transformar as propostas formuladas na campanha, em realidade. Isso vai depender muito de sua capacidade de diálogo e negociação com os membros integrantes do Congresso. Sem falar na tarefa de derrubar a desconfiança quanto a um possível comportamento autoritário e refratário aos direitos humanos. Como um dos seus discursos de campanha versa sobre a não distribuição de cargos e verbas para maximizar a base de apoio, certamente ele terá dificuldade no encaminhamento das propostas, o que consequentemente atrasará as reformas. Sem considerar que terá que negociar com vários governadores que se situam do centro para esquerda e se desdobrar por não ter maioria no Senado e na Câmara. Por fim, para garantir a governabilidade a longo prazo deverá ter a capacidade para enfrentar os desafios do presente, construindo um futuro melhor para o povo brasileiro.