"Eu só repassei"

Daniella Brito Alves
Jornalista, mestre em Sociologia e professora do curso de jornalismo da Uninassau Recife.

Publicação: 17/10/2018 03:00

“Eu só repassei”. Essa frase é uma das que mais vejo quando em grupos de WhatsApp me deparo e desmascaro a tal da fake news. Longe de ser apenas uma resposta, a frase em questão fala muito sobre o momento em que estamos vivendo, nossa parcela de responsabilidade e como nesta rede social personalizada, cada vez mais, gente próxima a nós coloca a informação em um não lugar que nunca será dela, o do não real.

Em tempos tão decisivos para o país, acredito que vale o debate sobre a nossa contribuição ou omissão no terreno mais fértil para a fake news, o WhatsApp. Aqui neste mundinho de conhecidos, amigos e amigos de conhecidos, nas correntes, nas mensagens bíblicas apocalípticas, o que se diz vale, muitas vezes, bem mais do que é fato. E para isso por que precisa ser verdade, né? Basta apenas que eu acredite nela.

Se nas redes sociais e na imprensa, essas noticias podem ser facilmente questionadas e comprovadas, no WhatsApp as informações, as falsas, sobretudo, formam uma poderosa e eficiente estratégia de legitimação de um discurso. Então por que conferir? E precisa?

Ainda vamos falar muito sobre como essa rede social personificada influenciou na nossa decisão pelo voto, sobretudo ao propagar como verdade a total ausência da informação, o não lugar do fato, do real. Não falo só de fake news mas de old news e de manipulation news, só para criar mais neologismos americanizados. Na eleição do contra cabe de um tudo, a escolha se dá para referendar muitas vezes não a escolha, mas a exclusão, a rejeição.

O discurso do caos não pode viver em nossas relações. Nem na nossa mensagem. Não basta apenas dizer, é preciso saber o que se diz ou, como dizia Marques de Melo, porque se diz.

Pelo que, parece, virá, a nossa resposta deve ser muito mais do que “eu apenas repassei”. A nossa omissão não pode falar por nós.

Em nome da verdade, da democracia, da memória. Por todos e todas nós.