Sobre as pesquisas eleitorais III

Moacir Veloso
Advogado

Publicação: 11/10/2018 03:00

No mês de setembro passado, foi publicado neste prestigioso Diario de Pernambuco, um artigo de minha autoria sob o título Sobre as Pesquisas Eleitorais II, no qual  manifestei meu descrédito na sua efetiva importância e eficácia para a melhoria do nosso processo eleitoral democrático. Assinalei, inclusive, que... seu protagonismo é notadamente deletério. Só serve para confundir o eleitor desavisado, induzindo-o ao malsinado voto útil, materializando um vetor de cooptação de votos, direcionados aos candidatos de interesse de alguns grupos de pressão, vinculados à correntes ideológicas de partidos políticos que pretendem chegar ao poder. Passadas as eleições em primeiro turno, chegamos às seguintes conclusões: além de inúteis, porque o eleitor não agrega nada de positivo ao saber antecipadamente quais os prováveis vencedores do pleito, restou demonstrada ainda a pouca ou nenhuma confiabilidade que merecem, tendo em vista as projeções que resultaram em monumentais equívocos em vários Estados. Em Minas Gerais, por exemplo, Dilma Rousseff aparecia como favorita ao Senado, restando um melancólico quarto lugar, registrando pouco mais de 15% dos votos, quando o Datafolha lhe conferia 27% e o Ibope 20%. Ela liderou todas as pesquisas desde o primeiro dia da campanha com, pelo menos, o dobro dos percentuais atribuídos ao então segundo colocado. A apuração dos votos das eleições gerais deste domingo, mostrou a precariedade das pesquisas de intenção de voto implementadas no Brasil, pelos dois principais institutos, Ibope e Datafolha. No Rio de Janeiro, o fiasco não foi diferente: ao governo, Wilson Witzel (PSC), aparecia no Ibope com 12% dos votos válidos e 11% no Datafolha. Abertas a urnas, eis a surpresa: Wilson com 41% dos votos. Os especialistas atribuem os erros das pesquisas eleitorais ao impacto das redes sociais na circulação das informações, fato que tornou o comportamento do eleitor mais volátil, mudando o voto numa velocidade maior do que a coleta pode demonstrar. Assim, errando cada vez mais, os institutos de pesquisas vão progressivamente perdendo a sua razão de ser, demonstrando ser sua atividade fim totalmente inútil, quando mais, prejudicial ao processo democrático no Estado de Direito. Afinal, para que servem? Indicar os prováveis vencedores das eleições, quando a disputa com resultado aleatório representa o tempero da liberdade política? Atender aos interesses de alguns candidatos, inflando seus percentuais de votos, para induzir ao seu favor, o pernicioso voto útil? Na minha opinião, o processo democrático poderia existir com melhor eficácia política, caso eles não existissem. Ouso vaticinar, que, a médio prazo, os institutos de pesquisas, de tanto errarem, perderão a credibilidade ao ponto de encerrarem definitivamente suas atividades. O primeiro passo para isso, seria ter as suas especulações proibidas pelo menos 15 dias antes das eleições.