O Nordeste e Bolsonaro

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicação: 08/11/2018 03:00

A política mudou. A forma de fazer política é outra. Por uma razão simples: não foram as estruturas políticas tradicionais, nem a força das oligarquias partidárias que elegeram o presidente Jair Bolsonaro.

Quem o elegeu foram as mídias sociais. Foi o twitter. Ou melhor, foi a associação entre um discurso radical e a mídia eletrônica. Arrastando uma legião de 14 milhões de seguidores. Que produziu mais de 50 milhões de votos.

Na prática, isso significa que o presidente eleito, se quiser, não precisa utilizar a política do “é dando que se recebe”. Não precisa aplicar a fórmula do presidencialismo de coalizão. Não precisa entregar ministérios de porteira fechada para os partidos. A presidência deixou de ser refém dos condôminos do clientelismo.

Como o presidente vai governar? De um lado, por meio da discussão de uma agenda de governo. Temática. Negociando com bancadas. Por outro lado, por meio da articulação política tradicional. Na qual estão presentes emendas parlamentares. E o atendimento de projetos sociais e econômicos nos estados e municípios de parlamentares.

Como fica o Nordeste nesse contexto?

Até os anos 60, a política para o Nordeste era hidráulica. Em cima do tema da seca. E da construção de barragens. Em tom emocional. A partir da SUDENE, a política passou a ser financiada por incentivos fiscais. Projetos industriais e agropecuários dominaram a discussão da política de desenvolvimento regional. Em tom mais racional. Nos anos, 90 a corrupção concorreu para que Fernando Henrique Cardoso extinguisse a SUDENE.

Atualmente, o Nordeste não passa de mera paisagem, em termos de política institucional. Não há uma visão integrada de desenvolvimento para a Região. Não há uma perspectiva programática para o espaço nordestino.

Diante do governo Bolsonaro, o desenvolvimento do Nordeste encontra duas limitações: a primeira, é institucional, programática. Porque não há um plano para a região. Não há unidade de pensamento. Nem distribuição regional de trabalho. A segunda limitação é política. Na recente eleição presidencial, o Nordeste foi a única Região na qual Bolsonaro perdeu. E onde o PT elegeu quatro governadores. Não há, aqui, códigos de interlocução política. Que ajudem a fluir iniciativas de projetos para os estados nordestinos.

Qual a saída para a Região? Identificar na agenda do governo os assuntos de interesse do Nordeste. E promover o alinhamento programático dos governos estaduais a ela. A política antiga de organizar pressões corporativas foi revogada pelo twitter.