Educação em revolução

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicação: 18/05/2019 03:00

Talvez a mais importante conclusão que se possa tirar a partir de todas as discussões ocorridas na Bett Educar, o maior evento sobre educação no país em 2019, é sem dúvida que esse segmento passa por grandes transformações tecnológicas. As revoluções de TIC (tecnologia da informação e comunicação) e na compreensão dos processos de aprendizado trouxeram preocupações e discussões sobre neurociência, métodos de interação com os alunos e entre eles, além de preocupação com o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e da capacidade de raciocínio e informação. Várias das discussões ocorridas mostram como é possível aprimorar os métodos de aprendizado a partir de estratégias de comunicação e interação entre pessoas, e dessas com os equipamentos e softwares. Um país de baixo PIB per capita como o Brasil, pode se beneficiar muito de potencial aumento da qualidade da educação proporcionado pelos novos métodos. Mas para efetivamente usufruir dos ganhos possíveis deve se ter estratégias claras e bem articuladas. Além disso, tem que se evitar alguns erros de políticas que podem comprometer de forma séria os resultados.

Em primeiro lugar, é necessário se ter clareza das prioridades efetivas da educação, que vão desde a implementação da Base Nacional Comum Curricular, até as definições das regras de financiamento do ensino básico, ameaçadas pelo iminente fim do FUNDEB, passando pela valorização e qualificação dos professores para enfrentar os novos desafios da educação. Não será discutindo a reintrodução do criacionismo nas escolas ou impondo controles ideológicos nas escolas e universidades que vamos evoluir na superação dos desafios gerados. Também não será desmontando os sistemas de informações que se conseguirá esconder as nossas deficiências. Ou seja, precisamos de uma definição clara de prioridades efetivas, introduzidas a partir de um diagnóstico sério, e de estratégias eficazes para persegui-las, ao invés de se perder em discussões tolas.

Os governos, pelos seus processos rígidos de contratação, têm dificuldades de promover as mudanças necessárias. Se não mudarmos a lógica de gestão pública podemos perder a capacidade de absorver os ganhos que as novas tecnologias são capazes de gerar. Talvez deva-se pensar em métodos específicos de contratação no setor educacional para que possamos absorver os novos desenvolvimentos na formação de nossos jovens. Os municípios pequenos e pobres devem contar com apoio a estratégias de absorção dos novos métodos que sejam desenvolvidos nacionalmente, por meio do ministério da educação ou das secretarias estaduais, pois não contarão com pessoal qualificado para forçar a introdução desses métodos. Se isso não for feito, as desigualdades regionais e entre espaços deverão se elevar. Ou seja, os governos também precisam se ajustar.

Uma outra fonte de obstáculos à absorção da revolução educacional será a qualificação dos professores e gestores do segmento, principalmente no setor público. Isso significa que tanto estabelecimentos públicos como privados precisam ter condições de recorrerem a consultores externos para acelerarem seus processos de transformação. No setor privado isso depende de visão dos gestores. Mas no setor público a alocação dos recursos entre as diversas rubricas orçamentárias pode fazer a diferença. Ou seja, os poderes Executivos e Legislativos precisam estar mais cientes dessa necessidade. A pressão do público, principalmente pais, e da imprensa nesse sentido é essencial. Os desenvolvimentos tecnológicos estão aí para ajudar educação. Falta nossa agilidade para introduzi-los.