EDITORIAL » Inep preocupa

Publicação: 18/05/2019 03:00

A dança das cadeiras virou rotina no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O presidente Elmer Vicenzi, nomeado há menos de 20 dias, perdeu o cargo na quinta. É o terceiro, neste ano, a esvaziar as gavetas e partir. Ontem, assumiu Alexandre Lopes.

Bacharel em direito e engenheiro químico, desde janeiro de 2019 pertencia à burocracia da Casa Civil do Palácio do Planalto. Era diretor legislativo da Secretaria Executiva, responsável, entre outras atribuições, pela coordenação do processo de sanção e veto dos projetos de lei encaminhados pelo Congresso Nacional.

Poucas notícias poderiam ser tão preocupantes quanto a crise na autarquia, que parece sem fim. O Inep é responsável por estatísticas, avaliações e provas aplicadas pelo Ministério da Educação. Entre elas, o Exame Nacional de Avaliação do Ensino Médio (Enem).

O teste, que no nascedouro visava avaliar a aprendizagem dos estudantes que caminhavam rumo à universidade, aos poucos ampliou a abrangência. Hoje praticamente substitui o vestibular. Boa parte das instituições de ensino superior selecionam os alunos com base no desempenho na prova.

Mais de 6 milhões de pessoas se inscrevem todos os anos — o equivalente à população da Finlândia. Eles fazem a prova no mesmo dia e no horário de Brasília. Considerando a extensão territorial do país e a dificuldade de acesso a muitas regiões, trata-se de senhor desafio a ser enfrentado por terra, água e ar.

Além da elaboração da prova, que obedece a critérios técnicos sofisticados, há que considerar a logística. A operação demanda reforçado sistema de segurança e qualificada equipe de 600 mil pessoas, que inclui de coordenadores a médicos. Os cartões de respostas são enviados aos centros de correção com escolta da Polícia Militar.

Em entrevista ao portal e à TV do Ministério da Educação, Alexandre Lopes se esforçou por transmitir serenidade ao público interessado: “Os mais de 5 milhões de estudantes que se inscreveram no Enem podem ficar tranquilos. O cronograma será mantido”, afirmou ele.

Espera-se que as palavras se transformem em ação. A comunidade estudantil em particular e a sociedade em geral torcem para que o Instituto Anísio Teixeira retome os trilhos, engate a marcha e faça não só o que o vem sendo feito. Mas avance.

As avaliações, fundamentais para corrigir rumos e traçar estratégias, precisam ser aperfeiçoadas. Para tanto, impõe-se planejamento. A equipe tem de saber a direção que o vento deve soprar e unir talentos em busca de resultados.

O troca-troca de presidente faz gol contra. Contribui para a imprevisibilidade e a insegurança. Já dizia o personagem de Lewis Carrol, no livro Alice no país das maravilhas: “Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve”. A marcha dos estudantes na quarta-feira deixou claro: o Brasil não quer qualquer caminho. Quer o da qualidade.