Abril distante

Tiago Carneiro Lima
Advogado, sócio de Lima e Falcão Advogados

Publicação: 26/06/2019 03:00

O mês de abril mais uma vez se distancia. E ainda penso no esquecimento nacional acerca de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Pouco se publicou sobre ele neste ano, embora até Shakespeare imortalizasse, em versos, o abril de nossas existências:

“Ausente andei de ti na primavera,
quando o festivo Abril mais se atavia,
e em tudo um’alma juvenil pusera
que Saturno saltitava e ria.”

Dos antigos livros de História do Brasil, a pintura de uma figura magra, cabelos longos, barba hirsuta, rosto amargo, olhos profundos. Dizem os críticos que assim fora retratado por questões religiosas, a parecer com as antigas imagens de Jesus, o Cristo, cuja morte e ressurreição também são comemorados no referido mês.

Contudo, a cada abril de nossas vidas, mais e mais nos esquecemos da Inconfidência Mineira, das revoluções libertárias, dos vultos históricos que nos legaram, com sangue, renúncia, destemor e lágrimas, a atual democracia em que vivemos.

Não fizemos a nossa parte. Instituímos uma democracia de poucos e para poucos. Capenga, interesseira, egoísta, desonesta, injusta e perversa com a grande maioria dos brasileiros. Democracia de um país cujas lideranças dividem, cotidianamente, o botim, a pilhagem. De um país cujas lideranças se assemelham mais aos “joaquim silvério dos reis”, do que aos líderes de um país sonhado pelos inconfidentes de outrora.

Nestes tempos de estio - e falo do abril de 2019, consolei-me com o grande livro de Lucas Figueiredo (Companhia das Letras). No final, tal qual um prematuro epitáfio para a quase totalidade das nossas lideranças políticas, o autor transcreve a bela poesia do inconfidente Alvarenga Peixoto:

“A quem morrer sabe, a morte
Nem é morte e nem é mal”.

Como forma de manter os preceitos e de exortar a respectiva fidelidade, as religiões recomendam a leitura cotidiana dos livros de base: aos cristãos, a Bíblia; aos mulçumanos, o Alcorão, o Suna; para o hinduísmo, o Mahabharata, o Vedas. No versículo 4 do Salmo 144, o Rei Davi escrevia: “O homem é semelhante a um sopro; seus dias, como a sombra que passa.”

O que precisaríamos ler, e praticar, para transformarmos este país numa democracia social? Qual deveria ser o nosso credo?

Na maior parte das vezes, algumas lideranças políticas sonharam em fazer o diferente. Mas, com o transcorrer das vidas, esqueceram-se dos sonhos dos inconfidentes e adotaram o lado “calabar”: o das “trinta moedas de prata”...

A cada abril, poderíamos adotar, como parte do nosso credo, o instigante texto de Joel Rufino dos Santos: https://oglobo.globo.com/opiniao/valeu-pena-15961002. Nele, o professor nos faz um belo desafio: é chegada a hora de “desenforcar e de desesquartejar” Tiradentes.

É hora, “ainda que tardia.”