Tradições nordestinas e os festejos juninos

Giovanni Mastroianni
Advogado, administrador e jornalista

Publicação: 26/06/2019 03:00

Antes de tudo, peço vênia à imortal Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti, pesquisadora da culinária da terra, autora da História da gastronomia pernambucana, Gilberto Freyre e as aventuras do paladar, O negro açúcar. Esses pratos maravilhosos e seus nomes esquisitos, entre outras publicações, ao antropólogo da alimentação Raul Giovanni da Motta Lody, obra que contou com o apoio do pernambucano Jorge Sabino, graduado em fotografia, que, também, participou dos livros A virtude da gula, Brasil, bom de boca e Águas de comer, em que são explorados frutos do mar, entre os quais os peixes, mariscos e crustáceos, especialmente os da Bahia. Acrescento Doce Pernambuco, igualmente de Raul Lody, uma viagem pela memória histórica e cultural da doçaria pernambucana, presente que recebi da amiga Ariadne Quintella.

Todavia, o propósito principal deste comentário é difundir as comidas típicas da região nordestina, em que se destacam entre as iguarias: buchada de bode, baião de dois, tapioca, mungunzá, moqueca de peixe, camarão, ostra, lagosta, fritada de siri, caruru, vatapá, acarajé, paçoca doce ou salgada, tapioca, carne de sol, queijo de coalho, angu, pamonha, canjica, cuscuz, macaxeira, batata doce, fatias paridas e os filhós. É destes últimos que deverei mais me aprofundar, pois cada um deles tem sua época.

Primeiramente, o carnaval, quando se destacam, tradicionalmente, os filhós, herança dos portugueses que ainda se mantém em algumas regiões interioranas, sendo esse bolinho o preferido dos amantes de doce. Diz-se que, no Agreste e no Sertão nordestinos, os filhós estão para o carnaval da mesma forma que os perus e os pastéis para o período natalino. Pesquisando-se tal verbete, no Aurélio, encontra-se sua origem vinda do latim foliola, acusativo neutro plural de foliolum, cujo diminutivo é folium (folha) e significa: bolinho ou biscoito de farinha com ovos, frito em azeite, que se come polvilhado de açúcar e canela ou passado por calda de açúcar. Profissionais da culinária definem como bolinho muito fofo de farinha e ovos que, depois de frito, é mergulhado em calda ou polvilhado com açúcar e canela. Importantes, todavia, a gostosura que representam e, certamente, a reverência aos tempos coloniais, quando servidos em compotas de vidro ou cristal, segundo ensina a pesquisadora gastronômica Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti.

Talvez seja durante os festejos juninos a época em que as comidas típicas do São João mereçam ser mais destacadas, superando até quibebe, feijão de coco, peixe e bredo da semana santa. Em junho, predominam: espigas de milho verde, assadas ou na brasa, canjica, tapioca doce ou salgada, pé de moleque, bolos de milho ou de fubá, paçoca, arroz doce, pipoca com caramelo, cocada, quindim, biscoito de polvilho, Maria mole, queijadinha, cuscuz, amendoim doce e pastel de carne. Como bebidas, predominam o quentão, as batidas de fruta e o vinho quente.

Apesar da variedade de comidas típicas do período junino, que se comemora, no momento, predominantemente, nas cidades de Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, não podem ser omitidas as iguarias consumidas nos festejos natalinos, geralmente em ambientes decorados com a tradicional árvore, os balões coloridos, velas, frutas e flores, além de outros ornamentos. As comidas para a ceia, em que se sobressai o peru, são acompanhadas de arroz, farofa e carnes, além da salada de salpicão, com maionese e patê. Na sobremesa, além de variadas frutas da época, os pastéis são indispensáveis. A bebida, como não poderia deixar de ser, é o vinho bem gelado.