EDITORIAL » Economia engata a 1ª marcha

Publicação: 14/09/2019 03:00

Boas notícias em economia têm sido raras. Mas, embora tímidos, os números mostram reação que estimula as expectativas por dias menos nebulosos. O crescimento estimado para 2019 passou de 0,81 para 0,85. É pouco, mas pode significar bom começo se o governo avançar na agenda modernizadora. Outros dados confirmam as expectativas.
 
O volume de vendas do comércio varejista cresceu 1% na passagem de junho para julho. Trata-se da terceira alta mensal seguida e do melhor resultado para o mês desde 2013. O setor de serviços também avançou — 0,8% no mesmo período. Dois fatores, segundo o IBGE, contribuíram para o resultado positivo. Um deles, o aumento da população ocupada. O outro, a melhora nas condições do crédito.
 
No trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego recuou 11,8% segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua, divulgados pelo IBGE. Houve aumento do número de pessoas que atuam na informalidade, mas essa é tendência contemporânea do trabalho. No Brasil e no mundo, a economia cresce sem ampliar a ocupação de mão de obra.
 
Máquinas e robôs desempenham tarefas antes destinadas aos homens. Em um ano, o mercado brasileiro absorveu 2,218 milhões de trabalhadores, mas apenas 233 mil deles com carteira assinada no setor privado. Trata-se de realidade nova que exige respostas novas. Como dizia Einstein, é insanidade esperar resultados diferentes com procedimentos iguais. Daí a mudança de paradigma. Mas um e outro modelo exigem dinamismo econômico.
 
Adolfo Sachsida, o secretário de Política Econômica, afirma que os ventos estão soprando com mais força. De acordo com ele, agosto será um divisor de águas porque encerra um ciclo difícil da economia. E explica: “Projeta-se recuperação da atividade a partir de setembro deste ano, como resposta dos efeitos iniciais do corte de juros, da elevação da confiança e início das liberações de recursos do saque imediato do FGTS”.
 
É ingenuidade acreditar que a reação seja robusta, capaz de tirar o país da marcha lenta em que se encontra. Nem o governo nem o cidadão sensato imaginam um salto de crescimento, previsível depois de recessão seguida de estagnação. A expectativa é de um impulso inicial fraco mas contínuo e ascendente. Para o terceiro trimestre, desenha-se expansão de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) — 0,7% superior ao de um ano antes. Espera-se desempenho mais forte da atividade no quarto trimestre.
 
A estimativa do governo para o avanço do PIB em 2020 será anunciada no dia 20. Talvez chegue a 2,5%. É importante avançar nas reformas e na agenda modernizadora para que o voo que ora se ensaia não seja de galinha. A hora é ontem. O fantasma de quase 13 milhões de desempregados assusta. Impõe-se pôr mãos à obra. Já.