PE: não tão bem comercialmente

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicação: 15/02/2020 03:00

Saíram essa semana os índices do volume de vendas no comércio para 2019 e seu último mês. No Brasil, esse índice cresceu 1,85% no ano, quando se compara a 2018. Em Pernambuco, essa elevação foi de apenas 0,48%. No Brasil esse incremento das vendas foi superior ao crescimento do PIB, que deve ficar em torno de 1,1%. Em Pernambuco, por sua vez, tal variação foi inferior àquela verificada para o PIB, que segundo projeções do governo do estado, deve ter evoluído 1,47%. Desde 2015 que o volume de vendas do comércio em Pernambuco evolui menos do que no Brasil. Essa tendência de longo prazo verificou-se mesmo com o PIB do estado possuindo uma taxa de crescimento superior à nacional no mesmo período. Pernambuco saiu de uma participação no PIB nacional de 2,75% para 2,80% entre 2014 e 2019, segundo as estatísticas oficiais. O PIB per capita, por sua vez, evoluiu de 59,9% da média nacional para 61,6%.

Essa assimetria em comportamentos relativos se dá por causa da variação do estoque de riqueza da população, além dos fluxos de recursos pelas fronteiras do estado ou país, seja pela propriedade de fatores de produção ou mesmo fluxo de recursos por créditos e débitos. As confianças na economia local e nas perspectivas de empregabilidade e renda futuras são determinantes fundamentais dos gastos no comércio. A confiança relativa na economia de nosso estado provavelmente é uma das raízes dessa assimetria comportamental. O fato de a economia pernambucana ter crescido muito no período anterior (2006 a 2014) fez também com que o nível de endividamento dos agentes econômicos locais atingisse patamar elevado. Por consequência, a necessidade de realização de pagamentos das dívidas contraídas também deve ter uma parcela na explicação do pior desempenho do comércio varejista local.

O encerramento das atividades do estaleiro Atlântico Sul e as indefinições quanto ao destino da Refinaria Abreu e Lima são algumas das notícias que reduzem a confiança em nossa economia no imaginário popular. As boas notícias de investimentos em Pernambuco de novos fornecedores para a fábrica da Jeep em Goiana não são suficientes para reverter esse pessimismo. Lojas fechadas em shoppings e nas ruas são sinalizadores ainda mais fortes das dificuldades da economia do estado. Tais visões levam a um maior conservadorismo de gastos por parte da população. No caso específico de Pernambuco, acima do que seria de se esperar, dado o crescimento do PIB. Ou seja, além do pagamento de dívidas, uma maior acumulação de riqueza por vários agentes, como prevenção a possibilidades de um futuro sombrio, também deve explicar essa dicotomia comportamental entre vendas e PIB.

O governo do estado reduzir o seu endividamento com os agentes locais poderia ser uma boa estratégia para dinamizar as vendas, inclusive facilitando a captura de crédito pela população. Isso levaria a um efeito multiplicador alto para os gastos públicos nas circunstâncias de incertezas atuais. Desmobilização de capital e aceleração de concessões, como tem sido feito pelo governo federal, podem ser caminhos que auxiliem a elevação das vendas do varejo em Pernambuco. Ou seja, há políticas que o governo do estado, e as prefeituras locais, podem fazer para destravar o conservadorismo em gastos dos agentes econômicos locais.