EDITORIAL » Pragmatismo necessário

Publicação: 30/05/2020 03:00

Donald Trump, por mais de uma vez, ameaçou impedir a entrada nos Estados Unidos de brasileiros e de não americanos procedentes do Brasil. A razão: o agravamento da pandemia do novo coronavírus, cujo combate as sucessivas crises na Saúde parecem comprometer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o gigante sul-americano será o novo epicentro da tragédia.

Decreto assinado por Trump no domingo passado concretizou o alerta. A decisão entrou em vigor na madrugada da quarta-feira (27), por tempo indeterminado. Apesar do constrangimento de autoridades e parcela da população, que esperavam tratamento privilegiado por parte da Casa Branca, a iniciativa deixou clara a máxima de John Foster Dulles: “Países não têm amigos. Têm interesses”.

O próprio Trump proibiu pousos e decolagens de voos procedentes da Ásia e da Europa quando a Covid-19 apresentava números alarmantes em cidades desses continentes. A própria pátria mãe, a Inglaterra, sofreu restrições. Passado o pico da crise, porém, a normalidade retorna sem atropelos. Assim foi e assim será.

Impõe-se vencer o inimigo comum para virar a página e prosseguir a trilha do desenvolvimento por que o país anseia. O Brasil tem de enfrentar dois grandes desafios. O primeiro: unir esforços para vencer a pandemia. Vale, a propósito, lembrar frase de Leonel Brizola. “Pra vencer o diabo”, dizia o político gaúcho, “convoquemos todos os demônios.”

Contra o vírus que já ceifou mais de 25 mil vidas brasileiras e cuja matança se encontra em ritmo ascendente, urge unir forças sem levar em conta colorações políticas. O pragmatismo pede passagem neste momento crucial. Entre outros, Israel e Argentina servem de exemplo. Tradicionais partidos inimigos esquecem as diferenças e se dão as mãos na luta, pois sabem que, sem a vitória, todos serão derrotados. O resultado é animador.

Ultrapassada a crise sanitária, abre-se outro campo de batalha. Trata-se das ações pós-pandemia. O tombo do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 deve beirar os 6%. Talvez mais. Projetos desenhados em 2019 — privatizações, parcerias público-privadas, megaleilões de reservas do pré-sal — perderam sentido depois da tragédia que se abateu nos cinco continentes.

O mundo mudou. Atrair capitais tornou-se mais difícil. Para correr riscos, investidores impõem condições. Exigem estabilidade política, segurança jurídica e respeito ao meio ambiente. São itens nos quais o Brasil andou para trás. Precisa investir para recuperar a confiança.