Máscaras e distanciamento social para a vida

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicação: 27/11/2021 03:00

Houve queda grande de contágio por Covid-19, no Brasil, nas últimas semanas. O avanço da vacinação e as práticas sociais de proteção, como distanciamento social e uso de máscaras, são os responsáveis por esse sucesso. Apesar da permanente tentativa do presidente da República de boicotar ações que levassem a tal controle, o Brasil está vencendo. A defesa da vida superou o desprezo pelos cidadãos brasileiros e a vaidade irresponsáveis. Esse sucesso recente, tem levado várias autoridades e lideranças sociais a decretarem que esses mecanismos de combate ao contágio podem ser relaxados. Em vários estados, já há exemplos de municípios que estão liberando o uso de máscaras em locais públicos, mesmo que sob alguma aglomeração. Em todo o Brasil, inclusive em Pernambuco, já é comum a autorização de público elevado em estádios de futebol, em shows e festas, provocando-se aglomerações. Incentivada por essa postura de autoridades e lideranças sociais, que sinalizam para a existência de pouco risco e preocupação com o contágio, parte substancial da população tem reduzido o recurso a máscaras e distanciamento social.

A experiência recente da Europa mostra que, mesmo com vacinação em andamento, ainda assim é possível haver elevação do contágio. O caso do Reino Unido é emblemático. Apesar de apresentar uma das mais altas taxas de vacinação naquele continente, ainda assim enfrentou elevação recente do contágio. O número de mortes, contudo, não cresceu tanto quanto o de pessoas contraindo a Covid-19. Além de causar gastos elevados para o governo, essa nova onda de contágio também está trazendo grandes prejuízos às pessoas infectadas. Enfermos sujeitam-se a momentos desagradáveis enquanto convalescentes e na recuperação posterior, expondo-se a vários sacrifícios. As mortes são muito menores por decorrência das vacinas. Mas a eficácia dessas últimas para evitar a enfermidade é menor. Claro que os problemas enfrentados por esses países europeus decorrem, principalmente, da existência de parcela não negligível de ainda não vacinados na população. Mas, a manutenção dos cuidados necessários poderia ter evitado essa nova onda.

Os gestores públicos no Brasil, assim como muitos na Europa, estão cedendo ao populismo ao incentivar o relaxamento dos cuidados necessários antes do momento adequado. Motivados em satisfazer a ansiedade da população, eles têm se engajado em uma falsa competição para mostrar que estão à frente no sucesso dos cuidados. Como criou-se uma percepção de que o relaxamento das ações protetivas refletiria a eficiência no controle da pandemia, eles estão sinalizando para a supressão de cuidados antes do tempo adequado. Os nossos gestores municipais e estaduais precisam deixar de ingressar nessa corrida e tomarem atitudes mais responsáveis. Eles falaram tanto em respeito à ciência no passado recente, mas parece que se cansaram de curvarem-se a ela e embarcaram nessa onda populista para tentar ser os mensageiros das boas notícias. Cabe a nós, eleitores, desconfiar e mesmo penalizar os gestores que embarcam nessa corrida insana, sinalizando nossa insatisfação com comportamentos irresponsáveis. Desde o início da pandemia, com nosso bom senso, vencemos um presidente irresponsável. Cabe-nos agora segurarmos o ímpeto populista de vários outros gestores.