Nos nomes, a história do comunismo
Batizados como Glauco, Karl Marx, Lenin e Luís Carlos, irmãos foram perseguidos durante o regime militar
Marcionila Teixeira
marcionilateixeira.pe@dabr.com.br
Publicação: 30/03/2014 03:00
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Lenin, Karl Marx e Olga aprenderam desde cedo o significado do comunismo |
É quinta-feira, dia marcado para a entrevista com a família. O apartamento de Karl Marx, advogado, 67 anos, é simples e aconchegante. Karl ainda está fora. Assumiu a missão de ir à casa dos demais irmãos, em Candeias, Jaboatão dos Guararapes, para convencê-los a falar com o Diario sobre o passado comunista. Era a primeira vez que conversavam juntos sobre o pai, a prisão em janeiro de 1973 e o golpe militar de 1964. Em meia hora, o dono da casa chega acompanhado de Lenin, 64, técnico em mecânica industrial. Olga, advogada, 61, chega em seguida. Glauco, advogado, 68, e o irmão Luís Carlos, contador, 59, desistem. Não desejam remexer em feridas.
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Glauco, Lenin, Karl e Luiz Carlos, este último na época menor de idade, entraram para a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização de luta armada brasileira de extrema esquerda que se posicionou contra o regime militar. Foram perseguidos, presos. Tiveram seu aparelho, sediado em Jaboatão, colocado abaixo em janeiro de 1973, mesma época do Massacre da Chácara São Bento, em Paulista, onde seis colegas do Partido Comunista Brasileiro (PCB) foram mortos. “Meu pai costumava dizer: se um dia acontecer qualquer coisa, não digam que eu botei o nome em vocês. Digam que foi seu avô, que já está morto”, lembra Karl.
Dos cerca de 30 dias na prisão, onde hoje fica o Quartel do Exército, no Parque 13 de Maio, no Centro do Recife, eles carregam as histórias de tortura. “Levei choque elétrico, fui queimado com cigarro, levei telefone (golpe nos ouvidos), passei uma noite amarrado sob ameaça de ir para o pau de arara”, narra Lenin. Diante dos espancamentos, Karl conta que “se danava a inventar conversas”. “Tinha uma luz acessa o tempo inteiro na cela. Só sabia que era domingo quando o carcereiro ligava o rádio e escutava o jogo. Nunca tinha certeza se era noite ou dia”. Do lado de fora, Olga e a mãe viviam uma tortura psicológica. “Minha mãe entrou em depressão, fez jejum até os meninos aparecerem”, completa Olga.
A força para enfrentar os dias de tortura, tiraram de Alfredo, o pai. “Ele dizia que o futuro seria do comunismo porque todo mundo vai ser igual. Vai faltar água, mas alguém vai ter comida, então vai trocar água por comida. O escambo e a troca vão ser inevitáveis”, diz Karl.
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