Na sombra da história Estado chegou a ser %u201Cgovernado%u201D por uma mulher. Chamava-se Brites de Albuquerque, mas assunto é praticamente esquecido

Tércio Amaral
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Publicação: 22/11/2015 03:00

Dona Brites de Albuquerque. Guarde esse nome. Possivelmente, poucos ouviram falar dela, mas, em Pernambuco, ela foi a única mulher na história a “governar” o estado, mesmo sem ser eleita. Na lista oficial de governantes e nos livros didáticos, seu nome é ocultado por presenças masculinas. No caso de dona Brites, que era mulher de Duarte Coelho, então donatário de Pernambuco, ainda na época das Capitanias Hereditárias, no século 16, a administração pública estava estritamente ligada à família. Assumiu o comando quando seu marido viajou a Portugal e logo após a morte dele. Mas por que o assunto não é revelado? Pelo fato de a história oficial ainda atrelar política ao sexo masculino. Esse tipo de pensamento é sentido na atualidade, com as mulheres “fora” da vida pública.

O Diario consultou pesquisadores de história do estado para descobrir a participação de dona Brites na política, mas não identificou estudos específicos para a personagem. “Na documentação, Brites é referida como capitã”, diz George Cabral (UFPE). “Ela governou no século 17. Duarte Coelho morreu em 1554 e ela viveu até 1584”, completou Severino Vicente (UFPE). As más línguas contam que, na prática, quem governava era o cunhado, Jerônimo de Albuquerque. Alguns registros, no campo acadêmico, sobre a vida de Brites, a primeira governante de Pernambuco, estão nos Anais Pernambucanos, de Pereira da Costa.

Aliás, outros estudos demonstram a participação das mulheres na vida pública do país antes mesmo do voto feminino, na Era Vargas, na década de 1930. O professor da Faculdade Damas, o jornalista Ricardo Japiassu, vai lançar, pela Editora da UFPE, o livro Ideias nos trópicos: Raul Azedo, Joaquim Pimenta e Alice Azedo Pimenta. O trabalho, fruto de financiamento da instituição, demonstra a reivindicação de Alice Azedo, na imprensa, por temas como divórcio, então proibido, e a participação da mulher na vida pública. “A questão do voto feminino no Brasil foi discutida mais na frente no país, mas ela já falava dessa participação de forma ampla, defendendo a igualdade das pessoas”.

Alice escreveu no jornal da família, em Pernambuco, O Tacape, que circulou entre os anos de 1928 a 1930, e seu marido, Joaquim Pimenta, era deputado do estado. Além desse exemplo, a historiadora Alcileide Cabral, da UFRPE, desenvolve um projeto sobre o pioneirismo do estado do Rio Grande do Norte em conceder direito ao voto às mulheres ainda 1927. No Brasil, esse direito só foi conquistado em 1933. “Antes de Vargas, com o gesto do Rio Grande do Norte, mulheres de outros estados entraram na justiça e, quando o voto feminino foi permitido no país, oito estados já garantiam esse direito”, comentou a professora. “Uma das questões da pesquisa é criticar o fato (o voto feminino) como um gesto de Vargas. Não foi algo benevolente, havia um movimento feminino e mulheres lutando por esse direito”.