O prefeito que salvou o Pátio de São Pedro Biografia de Pelópidas da Silveira conta passagens do gestor à frente do comando do Recife

TÉRCIO AMARAL
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Publicação: 03/07/2016 03:00

O jornalista Evaldo Costa, autor junto com o também jornalista Aquiles Lopes do livro Pelópidas da Silveira: o homem que amou demais uma cidade (Cepe), se atém ao ano de 1946 para explicar o sucesso político e eleitoral de um dos grandes nomes da política recifense do século 20. Foi nesse ano que o então engenheiro Pelópidas da Silveira, que não tinha qualquer histórico de militância universitária, foi galgado ao cargo de prefeito do Recife, pela primeira vez, pelas mãos do interventor José Domingues da Silva. Em um mandato curto de seis meses, que contribuiu com a queda do próprio interventor - José Domingues era acusado de governar ao lado de “comunistas” e o mais importante seria o próprio prefeito da capital -, Pelópidas colocou todos os conhecimentos aprendidos nos bancos universitários em prática, que mudaram a fisionomia da capital pernambucana.

Famoso por abertura de grandes avenidas, como a Conde da Boa Vista, que hoje passam longe do consenso, foi dele também a sensibilidade de manter em pé um dos cartões-postais da cidade: o Pátio de São Pedro, que seria demolido com a abertura da Avenida Dantas Barreto. “O projeto que encontrei ia sacrificar o Pátio de São Pedro. A nova avenida iria passar ao lado da igreja. Tomei a iniciativa de deslocar a avenida (na direção Leste-Oeste) para salvar a praça inteiramente e ainda a Rua das Águas Verdes, o Beco do Camarão”, disse o próprio Pelópidas, em um depoimento reproduzido no livro. A abertura da Dantas Barreto foi tirada da gaveta e levada à frente por Pelópidas, assim como uma série de medidas que explicariam seu sucesso nas urnas e junto ao eleitorado recifense. A obra da Dantas Barreto foi concluída em 1973, pelo prefeito Augusto Lucena, após a polêmica destruição de 400 casas, além da Igreja do Martírio.

“Eu me atenho a 1946 para explicar que, além de não ter vindo de uma família tradicional de políticos, ele conquista o eleitorado ainda na intervenção com medidas bastante populares”, diz Evaldo, que também é diretor do Aquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje). “Nesse ano, ele passa a regular e a tabelar o preço do peixe no Recife, principalmente durante a Semana Santa. Havia muitos abusos no aumento de preços”, reforça o jornalista, destacando também que, na época, o peixe era consumido pelas famílias periodicamente às sextas-feiras, além da Páscoa.

“A população tinha esse consumo de peixe uma obrigação religiosa e ficou eternamente grata a ele por evitar essa especulação”. De fato, a receita deu certo. Além da intervenção, Pelópidas foi eleito prefeito do Recife por mais duas ocasiões: em 1955 e 1963, tendo sido cassado no último mandato pelo regime militar de 1964.

Pelópidas foi um técnico que tomou gosto pela política. A sintonia com cargos públicos foi tanta que chegou a acumular os cargos de prefeito do Recife e vice-governador no ano de 1959. Isso porque, depois de ter sido eleito vice-governador na chapa de Cid Sampaio, não queria deixar a prefeitura para o vice e adversário Vieira de Menezes. “A questão da acumulação foi parar na Justiça e ele provou que não era impedimento ser prefeito do Recife e ser vice-governador, desde que não assumisse o governo do estado interinamente”, diz Evaldo.

A manobra garantiu que, ao sair da prefeitura da capital, Pelópidas entregasse o cargo a um dos seus maiores parceiros na política: Miguel Arraes. Aliás, o próprio Pelópidas fundou o que hoje compreende-se como a Frente Popular, quando foi eleito prefeito em 1955, e colocou no mesmo palanque partidos como o PSB, PTB e PTN.