ELEIÇÕES 2018 » Aceno na reta final da campanha Marina Silva declara "voto crítico" em Fernando Haddad, que tenta abrir canal de diálogo com Fernando Henrique, preocupado com os passos de Bolsonaro

Publicação: 23/10/2018 03:00

A menos de uma semana do segundo turno das eleições, a candidata derrotada da Rede à Presidência, Marina Silva, anunciou ontem “voto crítico” ao petista Fernando Haddad. Petista por quase 30 anos, Marina disse que, em oposição a Haddad, o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, “prega ódio contra minorias”. Em outro movimento, Haddad ligou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nova tentativa de formar um arco maior de apoios a sua candidatura.

O petista já havia recebido o “apoio crítico” do PDT, adversário no primeiro turno, mas o candidato do partido, Ciro Gomes, viajou à Europa e em nenhum momento se engajou na campanha. Seu irmão, o senador eleito Cid Gomes chegou a dizer que o PT deveria assumir que fez “muita besteira” para não “perder feio” para Bolsonaro. Diante da repercussão, ele gravou vídeo e participou de agenda ao lado de Haddad.

“Darei um voto crítico e farei oposição democrática a uma pessoa que, ‘pelo menos’ e ainda bem, não prega a extinção dos direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o fim da base legal e das estruturas da proteção ambiental, que é o professor Fernando Haddad”, disse a candidata, em nota.

Evangélica da Assembleia de Deus, a ex-ministra ainda criticou o apelo da candidatura bolsonarista ao nome de Deus. “É um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de Bolsonaro tem o objetivo de fazer o sistema político retornar aos fundamentos éticos orientados pela fé cristã.”

Para embasar seu posicionamento, Marina citou o conceito de “banalidade do mal”, cunhado pela filósofa Hannah Arendt, que segundo ela estaria presente nas ações de Bolsonaro. Colega de Esplanada da ex-ministra do Meio Ambiente, Haddad tuítou em seguida, dizendo que seu voto o honra “por tudo que ela representa e pelas causas que ela defende”.

A líder da Rede é conhecida por demorar a se posicionar em momentos como este. Em 2014, depois de uma campanha de desconstrução realizada pelo PT contra ela, optou por apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Neste ano, Marina deliberou com seus mais próximos assessores nas últimas semanas antes de tomar a decisão.

A campanha de Haddad tentou criar uma frente democrática com políticos e partidos, como o PDT e a Rede, mas encontrou dificuldades. Depois de duas semanas de ensaios, o candidato do PT telefonou ontem para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Segundo relatos, FHC disse estar “muito preocupado com as perspectivas” diante das últimas manifestações de Bolsonaro contra parlamentares de oposição, ativistas e veículos de imprensa e, principalmente, em relação à declaração do deputado eleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Bolsonaro, sobre a possibilidade de fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) - já desautorizadas pelo candidato.

Na sua conta no Twitter, ontem, FHC classificou como “inacreditável” a postura do presidenciável que prometeu fazer uma “faxina” e banir os “vermelhos” do Brasil. Na conversa, Haddad e FHC não combinaram ações conjuntas nem se falou sobre apoio.

O candidato derrotado no primeiro turno da eleição presidencial, José Maria Eymael (DC), publicou uma mensagem em seu perfil no Facebook declarando apoio ao candidato do PT. (Da redação com Agência Estado)