Redes sociais impulsionam vitórias nas urnas pelo país

Publicação: 23/10/2018 03:00

De views a votos. Depois de conquistar milhões de seguidores na internet, alguns youtubers decidiram usar seu poder de influência digital para se candidatar a cargos no Legislativo. Pelo menos sete candidatos com ativa participação nas redes sociais foram eleitos.

É o caso do empresário Luís Miranda, eleito como deputado federal em Brasília pelo DEM.  Miranda começou a publicar vídeos na internet quando se mudou para os Estados Unidos, em 2014. Pelo Youtube, ele comparava o dia a dia norte-americano ao do Brasil. Ficou conhecido ao publicar em sua página pessoal um vídeo mostrando os preços da gasolina. Filiado ao DEM há quase seis anos, tem mais de 700 mil seguidores e defende a adoção de algumas propostas do governo de Donald Trump. “Muitas pessoas não gostam dele como pessoa, mas o admiram como presidente. Eu sou a favor da reforma tributária que ele fez. Muita coisa pode ser copiada”, afirmou. O empresário voltou a morar no Brasil em setembro, pouco antes das eleições.

O uso da internet e das mídias sociais como ferramenta eleitoral já faz parte da realidade dos partidos, mas a ascensão dos influenciadores digitais ao poder é novidade. Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sobre a Democracia (Cebrad) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), esse movimento mostra a força das redes sociais. “As mídias sociais cresceram assustadoramente em termos de importância. São muito mais acessadas do que a televisão. Então, quem domina essas tecnologias vira referência em opinião. Assim como aos artistas, as pessoas passam a admirar e até a votar neles”.

Apesar de uma expectativa de 150 mil votos, Miranda recebeu apenas 65 mil e culpou as redes sociais pela diferença. “A internet me fez e, na reta final, ela quase me destruiu. Nos últimos 15 dias de campanha, o Facebook não estava entregando o meu conteúdo, houve um bloqueio, mas eu já pedi uma investigação ao departamento de tecnologia da Polícia Civil”, alega Miranda.

Quem também se inseriu na política tendo feito carreira nas redes foi Arthur do Val, conhecido por seus vídeos polêmicos no canal Mamãe Falei. O youtuber com opiniões de direita é famoso por ir a manifestações e movimentos de esquerda. Eleito deputado estadual em São Paulo pelo DEM, acredita que a falta de experiência na política não deve impedir os youtubers de conseguir articulações dentro das diferentes esferas do legislativo. “A política está mudando, as pessoas não acreditam mais em discurso. A população está dando o recado de que a participação popular está crescendo e isso vai mostrar aos velhos políticos que nós precisamos ser levados a sério”, avalia o youtuber, que tem quase 2 milhões de seguidores.

O sucesso na política pode não ser tão simples quanto parece, alerta Monteiro. “Em geral, essas pessoas se decepcionam rapidamente ao chegar ao poder, porque descobrem que o processo é muito mais burocrático do que imaginam. E se você não tiver uma boa formação, fica difícil, mesmo tendo um caminhão de votos. E aí elas podem acabar sendo só mais massa de manobra”.

Outro que chegou ao poder na Câmara dos Deputados foi Kim Kataguiri, quarto mais votado para deputado em São Paulo. O jovem de 22 anos ficou famoso ao publicar vídeos defendendo uma economia liberal e fazendo duras críticas à ideologia de esquerda. Em 2014, Kataguiri ajudou a fundar o Movimento Brasil Livre (MBL), que dava apoio às investigações da Lava-Jato.

Cofundador do MBL e uma das lideranças da corrente suprapartidária Livres, Fábio Ostermann (Novo) também obteve sucesso e se elegeu deputado estadual no Rio Grande do Sul. “As redes sociais são importantes, mas, por si só, não garantem sucesso. Devem ser acompanhadas por ideias firmes. No meu caso, conceitos que não são tão instintivos na população, para levar ao eleitor a retórica liberal sem cair em demagogias e populismo”.

Segundo Monteiro, esse tipo de  campanha deve crescer em todas as vertentes ideológicas. “Há um enfraquecimento de todos os partidos. Nas manifestações de 2013, as pessoas expulsavam os partidos das manifestações porque eles eram identificados como corruptos. A diferença é que a direita passou a usar esses meios com muito mais eficiência. A esquerda ainda está amarrada a um velho sistema, com sindicatos e partidos tradicionais”. (Do Correio Braziiense)