ELEIÇÕES 2018 » Ruídos mexem com mercado Ibovespa caiu 2,80% com tensão externa e declarações em torno de Jair Bolsonaro. O dólar subiu diante de sinalizações do presidenciável

Publicação: 11/10/2018 03:00

O mercado reagiu mal à mudança de tom no discurso do candidato Jair Bolsonaro (PSL) em relação às privatizações. Depois de ele criticar a venda da Eletrobras na noite de terça-feira, as ações da estatal de energia caíram 9,1% ontem. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, recuou 2,8% e o dólar subiu para R$ 3,76. “A gente vai vender (a Eletrobras) para qualquer capital do mundo? Você vai deixar a nossa energia na mão da China? A gente pode conversar sobre distribuição, mas sobre geração não”, afirmou o candidato, na noite de terça, em entrevista à TV Bandeirantes - hoje, os chineses já são os maiores geradores de energia privada do país.

O discurso de Bolsonaro vai na direção oposta da cartilha liberal de seu guru econômico, Paulo Guedes, que sempre defendeu a venda das empresas estatais para arrecadar dinheiro para o pagamento da dívida pública e para viabilizar seu projeto de reforma da Previdência.

Na semana passada, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o general Oswaldo de Jesus Ferreira, também da equipe de Bolsonaro, já havia indicado a intenção de não privatizar empresas consideradas estratégicas, como Petrobras, Furnas, Caixa e Banco do Brasil. Ferreira, porém, havia confirmado que a Eletrobras iria para a iniciativa privada.

Na segunda e na terça-feira, os papéis da empresa avançaram 17,3% e 3,68%, respectivamente, com a possibilidade de a privatização da estatal sair do papel dado o fortalecimento do presidenciável na corrida eleitoral após o primeiro turno.

“Só está surpreso (com a fala de Bolsonaro) quem não fez a lição de casa. Bolsonaro e os que foram eleitos com ele (os parlamentares do PSL) têm visões parecidas: nacionalizantes e contra propostas liberalizantes”, disse o economista Marcos Lisboa, presidente da instituição de ensino superior Insper e secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, também destaca que o candidato tem visão estatizante e critica o fato de o mercado financeiro ter comprado a ideia de que ele mudaria o modo de pensar em apenas um ano. “O mercado acredita no que quer Mas, por 30 anos, ele teve uma postura estatizante. Não seria convertido da noite para o dia.”

Desde o começo da campanha eleitoral, Bolsonaro admitiu não entender de economia e destacava sempre que deixaria o assunto nas mãos de Guedes. Quando o economista sugeriu o retorno da CPMF (imposto sobre movimentação financeira), no entanto, o candidato rapidamente o desautorizou.

Para Vale, diante dessas divergências ideológicas - que estão ficando mais expostas no fim da corrida eleitoral -, a permanência de Guedes em um eventual governo Bolsonaro deve durar menos de um ano.

A entrevista de Bolsonaro à Bandeirantes também resultou, ontem, em uma queda de 3,7% nas ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras. O candidato declarou que a estatal não pode se “salvar” e “matar a economia”, em referência à política de paridade internacional praticada pela estatal, que acompanha internamente os preços praticados nas principais bolsas de negociação de commodities. Essa política foi adotada durante o governo de Michel Temer, na gestão de Pedro Parente no comando da petroleira. (AE)