Uma ameaça contra o Supremo Filho de Jair Bolsonaro fala em vídeo, durante curso, que, caso o STF agisse contra seu pai, bastaria "um soldado e um cabo" para acabar com a instituição

Publicação: 22/10/2018 03:00

Em vídeo gravado em 10 de julho, antes do primeiro turno das eleições, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), disse que, para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), “basta um soldado e um cabo”. Ele afirmou ainda que, se o STF impugnasse a candidatura de seu pai, teria “de pagar para ver o que acontece”.

O vídeo foi feito durante aula em um curso preparatório para prova da Polícia Federal, em Cascavel (PR). Foi o próprio curso que divulgou o vídeo em sua página. A resposta do deputado veio após o questionamento de alunos sobre o que ocorreria caso a candidatura de Bolsonaro fosse impugnada.

“O STF vai ter de pagar para ver. E aí, quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você está indo para um pensamento que muitas pessoas falam e muito pouco pode ser dito. Mas, se o STF quiser arguir qualquer coisa, (...) recebeu uma doação ilegal de R$ 100 do José da Silva e, então, impugna a candidatura dele. Não acho isso improvável, não”, disse ele, para acrescentar: “Mas, aí, vai ter de pagar para ver. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, você sabe o que faz. Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Sem querer desmerecer o soldado e o cabo. O que é o STF cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua?”, disse ele”.

Em entrevista, no Rio, o presidenciável Jair Bolsonaro disse que desconhecia o teor do vídeo. “Isso não existe, falar em fechar o STF. Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra”, afirmou o candidato.

No fim do dia, o próprio Eduardo usou as redes sociais para dizer que “tranquilamente” pedia desculpas pelas declarações. “Se fui infeliz e atingi alguém, tranquilamente peço desculpas e digo que não era a minha intenção”, escreveu ele. “Eu respondi a uma hipótese esdrúxula, onde Jair Bolsonaro teria sua candidatura impugnada pelo STF sem qualquer fundamento. De fato, se algo desse tipo ocorresse, o que eu acho que jamais aconteceria, demonstraria uma situação fora da normalidade democrática. Na sequência, citei uma brincadeira que ouvi de alguém na rua.”

Ao responder sobre o caso, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também ministra do STF, Rosa Weber, disse que juízes não se deixam abalar por manifestações inadequadas. “As instituições estão funcionando normalmente e juiz algum no Brasil, que honra seu ofício, se deixa abalar por qualquer manifestação que eventualmente possa ser compreendida como de todo inadequada.”

Em sua conta no Twitter, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu que as declarações do deputado merecem o “repúdio dos democratas” e “cheiram a fascismo”. “As declarações do deputado Eduardo Bolsonaro merecem repúdio dos democratas”, escreveu. “Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras, de qualquer partido, contra leis, a Constituição.”

Já o candidato petista Fernando Haddad, que fez campanha ontem no Maranhão, comparou a família Bolsonaro a “um grupo de milicianos”. “Não é um candidato a presidente. É um chefe de milícia. Os filhos deles são milicianos, são capangas. É gente de quinta categoria.” (Da redação com Agência Estado)