Promessa de reforço no combate ao crime SDS garante que criação do Draco, após polêmica, vai fortalecer a repressão ao crime organizado

Aline Moura
aline.moura1@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 08/11/2018 03:00

Representantes da Polícia Civil e da Secretaria de Defesa Social foram à linha de frente, ontem, para explicar, em coletiva à imprensa, a criação do novo Departamento de Repressão ao Crime Organizado de Pernambuco (Draco). A repartição juntará seis delegacias e será comandada pela delegada Sylvana Lellis, com 21 anos de experiência na Polícia Civil e  uma das responsáveis pela estruturação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Os detalhes foram explicados após a polêmica que envolveu a extinção, em regime de urgência, da Delegacia de Polícia de Crimes Contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp), mais conhecida por combater infrações de colarinho branco. Segundo o secretário em exercício da SDS, Humberto Freire, que pertence aos quadros da Polícia Federal, o departamento institucionalizará, a partir de janeiro, o combate à corrupção em Pernambuco e o ampliará.

A coletiva foi convocada um dia depois de o governador Paulo Câmara (PSB) sancionar a lei 16.455/2018 que instituiu o Draco, cujo texto será regulamentado por meio de decreto até a próxima sexta-feira. A forma como tudo aconteceu, entretanto, gerou críticas até do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato. O projeto foi aprovado em segunda discussão na Assembleia Legislativa na semana passada, porém sem debates com os policiais. Nem mesmo a delegada titular do Decaps, Patrícia Domingos, soube que a delegacia seria incorporada por um departamento. Na semana passada, ela chegou a desabafar: “Foi um silêncio absoluto”.  

Freire informou que Patrícia foi convidada para ser diretora-adjunta do Draco, ao lado de Sylvana Lellis, mas recusou. Ele não explicou as razões e Patrícia, por outro lado, disse à reportagem que só iria se pronunciar hoje oficialmente. A mesma lei que extinguiu a Decaps também acabou com a Delegacia de Crimes contra a Propriedade Imaterial (Deprim), que investia contra a pirataria. O secretário, no entanto, justificou que a extinção da Decaps e Deprim foi necessária em virtude da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede a criação de despesas com pessoal nos últimos 180 dias de governo. “Havia necessidade efetiva de extinguir as duas unidades para dar lugar à criação da outra, a estrutura de cargos dela está sendo remanejada”, ressaltou, aproveitando para fazer elogios a Patrícia, que poderia assumir o cargo de diretora-adjunta, para coordenar, orientar e até mesmo participar de operações em caráter especial.

O secretário negou que a criação do Draco pudesse gerar críticas de investigações seletivas, direcionadas apenas contra adversários políticos. Sylvana também falou sobre o assunto após a coletiva e negou qualquer direcionamento político dos casos a serem apurados ou encerrados. “Eu fiz uma conferência internacional sobre a seletividade penal através das agências do sistema. Eu me preocupo com isso. Mas não vai acontecer”, prometeu. Indagada pelo Diario se haveria espetacularização de prisões, cujos presos seriam soltos logo após os holofotes serem desligados, ela afirmou: “Isso não vai acontecer. Dos casos de homicídios que investiguei, as pessoas não costumavam ser soltas, porque eu fecho todas as pontas”, avisou.

Novidade no combate aos crimes de colarinho branco no estado

A criação do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco)

Quem vai comandar o Draco?

Sylvana Lellis, que tem 21 anos de história na Polícia Civil de Pernambuco, 15 deles no DHPP, departamento que ajudou a estruturar. Ela foi responsável por investigações complexas, como a morte do promotor Rossini Alves Couto. Tornou-se professora de técnicas investigativas e participou da formação de grande parte dos delegados atuantes da PCPE. Ocupava o cargo de gestora da Academia de Polícia.

Quais as atribuições?

O Draco terá, entre suas atribuições, o planejamento e a coordenação de ações estratégicas de prevenção e repressão ao crime organizado.

Qual será a estrutura?

Duas delegacias de Polícia de Repressão ao Crime Organizado (DPRCO), que incorporará as investigações já em curso das Delegacias de Polícia de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos (DECASP) e de Crimes contra a Propriedade Imaterial (DEPRIM). O departamento também englobará, sob sua estrutura, as Delegacias de Crimes contra a Ordem Tributária (DECCOT), Repressão aos Crimes Cibernéticos (DPCRICI) e de Polícia Interestadual e Capturas (Polinter), além do Grupo de Operações Especiais (GOE). Cerca de 100 profissionais, entre delegados e policiais civis, atuarão no Draco.  

Qual a promessa feita pelo governo?
Em quatro anos, mais seis DPRCOs serão criadas para atender a todas as regiões do estado.

Quem comandará a Delegacia de combate a crimes de corrupção no Recife?
Viviane Santa Cruz ocupará a primeira Delegacia de Combate a Corrupção (DPCRO), que atua na Região Metropolitana do Recife. Delegada há nove anos, Viviane foi titular de duas Operações de Repressão Qualificada em 2018, incluindo a Ponto Cego, que investigou o suposto favorecimento de presos pelo promotor Marcelus Ugiette.

Quem comandará a Delegacia de combate a crimes de corrupção no interior?
O delegado Diego Pinheiro, que já realizou três investigações com foco no desvio do erário, a última delas, denominada Chaminé, desarticulou esquema de corrupção na Câmara de Vereadores do município de Paulista.
 
Fonte: Secretaria de Defesa Social