Tensão marca 1º depoimento Em audiência, Lula diz que não sabe do que é acusado, em relação a processo do sítio de Atibaia, e bate de frente com juíza substituta de Moro

Publicação: 15/11/2018 03:00

O primeiro interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava-Jato, com a substituta do juiz Sérgio Moro, a juíza federal Gabriela Hardt, foi marcado por um clima de tensão Na audiência, que durou ontem quase três horas, a magistrada chegou a advertir o petista logo no início do depoimento. Foi a primeira vez que o ex-presidente deixou a Superintendência da Polícia Federal desde que foi preso, em 7 de abril, após ser condenado em segunda instância no processo que envolve o tríplex do Guarujá.

Nessa ação, o ex-presidente - que disse ontem que não sabia do que era acusado e alegou ser vítima de uma “farsa” - é réu no caso do sítio de Atibaia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, o petista recebeu propina das empreiteiras OAS e Odebrecht por meio de reformas no sítio, que está em nome do empresário Fernando Bittar, também réu na ação - ao todo são 13 acusados. As obras teriam custado cerca de R$ 1 milhão.

“O senhor sabe do que está sendo acusado?”, questionou a juíza, seguindo o rito dos interrogatórios a que são submetidos todos os réus. “Não”, respondeu o petista, para, em seguida, dizer que estava disposto a responder a toda e qualquer pergunta. “Eu sou dono do sítio ou não?”, questionou.

“Isso é o senhor que tem que responder e não eu”, rebateu Gabriela. “E eu não estou sendo interrogada nesse momento.” Após ser interrompida por Lula, que insistia em fazer perguntas, a juíza afirmou: “Senhor ex-presidente, se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema.”

Tanto os delatores da Odebrecht como o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, confirmaram em juízo que executaram os serviços em benefício do petista. No depoimento, Pinheiro chegou a dizer que o sítio era de Lula, o que ex-presidente nega.

Na segunda-feira passada, Bittar havia dito a Gabriela que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2010, “ia tocar a obra” no sítio e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, faria a reforma. Segundo Bittar, Marisa “tinha autonomia” para coordenar as obras.”

Lula pediu desculpas aos representantes do Ministério Público Federal no final da audiência, “não é pessoal”. Mas disse ficar muito irritado com “as mentiras do power point”, em referência à apresentação feita pela força-tarefa da denúncia contra o ex-presidente, em 2016. Ele disse que “era o troféu que a Lava-Jato precisava entregar” e disse que aos 73 anos não sabe se viverá até quando conseguir comprovar sua inocência. (Agência Estado)