ENTREVISTA » "Perseguição ideológica não é saudável para ninguém" Ricardo Salles // futuro ministro do Meio Ambiente

Publicação: 11/12/2018 03:00

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que todas as organizações não governamentais (ONGs) podem ficar “tranquilas” com sua nomeação. Advogado e um dos criadores do movimento Endireita Brasil, Salles assegurou que o verbo de sua gestão será “harmonizar”, sem discriminações. “Essa perseguição ideológica não é saudável para ninguém. Nem para a Agricultura e tampouco para o Meio Ambiente”, afirmou ele.

Após a polêmica sobre a fusão de ministérios, a avaliação foi de que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, queria reduzir o Meio Ambiente a um apêndice da Agricultura. O que o sr. acha disso?
Não é verdade. A decisão do presidente - e ele tem toda razão nisso - é de que haja harmonia, integração, diálogo entre todos os setores, sobretudo o da Agricultura com Meio Ambiente. Foi um setor muito perseguido por órgãos ambientais em administrações passadas. Essa perseguição ideológica não é saudável para ninguém: nem para a Agricultura e tampouco para o Meio Ambiente

Bolsonaro defendeu o fim do que chama de indústria de multas do Ibama. O sr. vai propor alguma mudança nessa área?
Eu fui secretário do Meio Ambiente em São Paulo e verificamos que, de fato, há uma precipitação em impor sanções. Muitas vezes, quando se debruça sobre os casos concretos, descobre-se que o devido processo legal não foi observado. Essa é a nossa preocupação. Vamos informatizar tudo e fazer uma gestão transparente.

O Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade (ICMBio) será mesmo incorporado ao Ibama?
Isso tudo está sendo estudado pelo grupo de transição.

Quando era secretário do Meio Ambiente, o sr. defendeu o combate à ideologização. O que isso significa exatamente?
Significa que as decisões adotadas têm de ser sempre pautadas na lei. É essa a posição adotada pelo presidente: a de que nós deixemos discussões ideológicas de lado e tenhamos discussões técnicas, fundamentadas em questões concretas.

O sr. assume a pasta num momento de crescimento no desmatamento da Amazônia. Há temor de ambientalistas de aumento ainda maior no governo Bolsonaro. Como vê essa preocupação?
Acho que todas as ONGs, ambientalistas e organismos de conservação podem ficar absolutamente tranquilos porque vamos atuar da maneira mais legalista possível. Temos o Código Florestal, que precisa ser cumprido. Vamos levantar informações mais específicas de onde e por que esse eventual desmatamento ocorreu para ter uma fotografia mais adequada do que está acontecendo. As informações são muito genéricas.

O governo desistiu de sediar a Cúpula do Clima, COP-25, em 2019. O sr. acha que essa decisão ainda pode ser revista?
Esse é um assunto sobre o qual ainda não conversei com o presidente. Portanto, eu me reservo aqui a posição de não confirmar nem negar.

O sr. disse que o seu papel será o de defender o Meio Ambiente e respeitar o setor produtivo. A sua indicação, porém, foi apoiada pela Sociedade Rural Brasileira. Essa sinergia com o setor rural já é interpretada como a perda de poder para o agronegócio. Como o sr. responde a essa crítica?
Infelizmente, durante anos se contrapôs no Brasil, por uma questão dogmática e ideológica, o meio ambiente a diversos setores produtivos. Não me refiro exclusivamente à agropecuária, mas ao setor imobiliário, à indústria, ao comércio. Vimos em São Paulo como a falta de desenvolvimento econômico gerou consequências para o meio ambiente, com o abandono do saneamento, do cuidado com os rios, a invasão de propriedade. A palavra é harmonizar a defesa do meio ambiente com o apoio ao desenvolvimento em todos os setores produtivos, sem discriminar nenhum deles.

O sr. é réu na Justiça por improbidade administrativa, acusado de ter alterado ilegalmente o plano de manejo de uma área de proteção ambiental do Tietê. Isso não o constrange a assumir o cargo?
Em absoluto. As medidas que tomamos para adequar o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Tietê eram necessárias justamente porque, naquele caso, as posições adotadas haviam sido muito mais ideológicas do que técnicas. Havia erros muito sérios ali que precisavam ser corrigidos.

Em recente post no Twitter, o sr. disse que governo é sempre problema, jamais é solução. O que o sr. quis dizer com isso?
Que precisamos diminuir o peso do Estado sobre o cidadão. Sempre que o Estado fica inchado, você inibe a atividade econômica e atrapalha a vida dos empreendedores e de quem depende do mercado de trabalho.

O sr. é filiado ao Novo. Sua entrada na equipe pode ser entendida como apoio do partido ao governo Bolsonaro?
Eu sou do partido Novo, mas a minha escolha foi pessoal do presidente da República. Não tem relação político-partidária. (Agência Estado)