Depósitos de R$ 96 mil para Flávio Já envolvido no caso Queiroz, o senador eleito e filho do presidente vê sua situação se complicar por causa de movimentações financeiras

Publicação: 19/01/2019 03:00

Trecho de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostra que em um mês quase 50 depósitos em dinheiro foram feitos numa conta do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), revelou na sexta-feira, o Jornal Nacional, da Rede Globo. A suspeita é que funcionários dos gabinetes devolviam parte dos salários, numa operação conhecida como “rachadinha”.

O registro traz dados sobre movimentações financeiras de Flávio Bolsonaro entre junho e julho de 2017. No total, foram 48 depósitos em espécie na conta do senador eleito, “concentrados no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), e sempre no mesmo valor: R$ 2 mil”, segundo a matéria.

Foram R$ 96 mil depositados em cinco dias. O Coaf disse à Rede Globo que não foi possível identificar quem fez os depósitos. O relatório, segundo a reportagem, afirma que o fato de terem sido feitos de forma fracionada desperta suspeita de ocultação da origem do dinheiro. O documento faz parte de um relatório de inteligência financeira. O Jornal Nacional informou que esses dados foram pedidos pelo Ministério Público do Rio a partir da investigação de movimentação financeira atípica de assessores parlamentares da Assembleia Legislativa daquele estado.

Conforme o JN, o primeiro documento tratava da movimentação dos funcionários da Alerj. O MP pediu o novo relatório ao Coaf em 14 de dezembro e foi atendido no dia 17, um dia antes de Flávio Bolsonaro ser diplomado senador, conforme a reportagem. Portanto, segundo o MP, ele não tinha foro privilegiado.

Por causa desse relatório, diz a reportagem, Flávio Bolsonaro questionou a competência do MP no Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu temporariamente a investigação. Ele foi citado no procedimento aberto pelo Ministério Público do Rio contra o ex-assessor Fabrício Queiroz, que é investigado por movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão durante um ano. O Jornal Nacional procurou a assessoria de Flávio Bolsonaro, mas não obteve resposta, de acordo com a reportagem.

“DEMORA”
Flávio Bolsonaro afirmou na sexta-feira, em entrevista gravada ao Jornal da Record, que quanto mais Fabrício Queiroz “demora” para esclarecer acusações, mais ele o complica. Flávio também acusou o Ministério Público do Rio de investigá-lo ocultamente desde meados de 2018. Segundo o deputado, o MP se utilizou de “vários atos ilegais, sem a devida autorização judicial”.

Flávio afirmou que não se esconde atrás de foro privilegiado “nenhum” e que prestará os “devidos esclarecimentos”. Ele disse também que é contra o foro privilegiado, mas que não é uma escolha dele. “Não é que tenho o foro, é um questionamento. O STF é o único órgão que pode falar sobre o foro. Vou aonde tiver que ir para esclarecer qualquer coisa”, disse, sobre a reclamação apresentada por ele para suspender a investigação sobre as movimentações de Queiroz, que foi acatada pelo ministro Luiz Fux, do STF. “A ideia era para cumprir a obrigação legal. Estavam desobedecendo entendimento do STF na decisão sobre foro competente. Está escrito que eles (STF) têm de analisar caso a caso qual é a competência”, prosseguiu. O senador eleito pelo PSL disse que não ter a “menor dúvida” de que há tratamento diferenciado sobre ele no Coaf. “Teve quebra de sigilo da bancário”, declarou. “Por que não tem o mesmo tratamento com os outros assessores dos outros deputados? Não quero privilégio nenhum, só quero o mesmo tratamento”, disse. (Agência Estado)