Diario político

Marisa Gibson
marisa.gibson@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 08/01/2019 03:00

Como a banda toca

É assim que a banda toca: não é possível ignorar o presidente da República assim como é  inadmissível que não se coloque a foto oficial do chefe da Nação nas dependências das administrações estaduais, conforme  ensaiaram alguns governadores nordestinos por discordarem da vitória e do viés ideológico de Jair Bolsonaro (PSL). Ontem, o governador Paulo Câmara (PSB) se desfez dos ranços políticos e eleitorais anunciando para um grande público - o fez num telejornal da TV Globo - que estava solicitando formalmente uma audiência com Bolsonaro, para debater a continuidade de projetos em Pernambuco e deixar claro para o governo federal que o estado também pode contribuir para ajudar o Brasil a crescer novamente. Dentro do PSB, partido do qual o governador é vice-presidente nacional, já há um consenso de que a oposição ao governo Bolsonaro tem que ser mais inteligente do que emocional. No caso, o emocionalismo deve ficar por conta do PCdoB, que, junto com o PSB e o PDT, forma o bloco de esquerda no Congresso contra  Bolsonaro e que tem no governador Flávio Dino, do Maranhão, um dos representantes mais ácido perdendo apenas para a vice-governadora pernambucana Luciana Santos -  presidente nacional da legenda. Em referências recentes aos governadores do Nordeste, Bolsonaro desdenhou da paixão lulista que ainda move o grupo nordestino, “ o presidente deles está em Curitiba”, e embora  tenha descartado qualquer tipo de revanche também não acenou com um tratamento diferenciado para o Nordeste por ser uma região carente. Então, vamos acompanhar para ver como é que a banda vai tocar para o lado de cá.

Frente
É do deputado federal  Danilo Cabral (PSB)  a iniciativa de criar na Congresso uma frente parlamentar em defesa do Nordeste, diante do que ele considera descaso do presidente Bolsonaro com a Região: “Somos 54 milhões de habitantes, representamos 14% da economia nacional e ainda temos as marcas mais profundas da desigualdade do Brasil. Mesmo assim, não fomos representados na equipe do novo governo federal.”

Instrumento
Para Danilo Cabral, a criação da frente pelo Nordeste  também se justifica pelo fato de Bolsonaro ter adotado uma nova lógica no relacionamento  com o Congresso, priorizando as negociações com as frentes parlamentares e não com os partidos.

Acima de todos
Com a nomeação de Alexandre Gabriel para a Secretaria-executiva de Comunicação, o Palácio das Princesas fechou o grupo de auxiliares - Assessoria Especial Antônio Figueira), Planejamento (Alexandre Rebelo), Casa Civil (Nilton Mota),  Imprensa (Eduardo Machado) - ,que constitui o cérebro do segundo Governo Paulo Câmara. Alexandre Gabriel foi secretário de Imprensa e, posteriormente, coordenador de Planejamento e Gestão da Prefeitura do Recife.

Nova hegemonia
Com exceção de Alexandre Rebelo, todos trabalham dentro do Palácio das Princesas, tendo portanto acesso fácil ao governador. Esse novo grupo, puro sangue,  tem o DNA de Paulo Câmara, do prefeito Geraldo Julio e de Antônio Figueira, um dos auxiliares mais poderosos do governo. Enfim, nem arraesistas. nem eduardistas, nem jarbistas.

Estratégia
Essa composição, que inclui também Sileno Guedes, ex-Prefeitura do Recife e presidente estadual do PSB, como secretário estadual de Desenvolvimento Social, reflete também uma estratégia  político-eleitoral para enfrentar os futuros  adversários do Palácio das Princesas, que vão chegar com a bandeira brasileira nas mãos.

Dois tempos
Enquanto a oposição nacional não dá tréguas a Bolsonaro (PSL), em Pernambuco, Paulo Câmara inicia o segundo mandato praticamente sem  opositores. Há uma expectativa em relação aos projetos do PSL no estado, mas o presidente da legenda, o deputado federal pernambucano Luciano Bivar, ainda não se debruçou sobre as questões locais. Por enquanto, as negociações para a eleição da presidência da Câmara dos Deputados, em 1º de fevereiro, é que estão no radar.