Demissão com sugestão de trégua Saída de Gustavo Bebianno, por ordem de Jair Bolsonaro, foi confirmada ontem e presidente fez elogios a ex-braço direito para diminuir tensão

Publicação: 19/02/2019 03:00

Às vésperas de enviar a proposta de reforma da Previdência ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro tentou ontem encerrar a grave crise que há quase uma semana abala o governo e anunciou a demissão do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. A queda de um de seus principais auxiliares, no entanto, está longe de representar o fim da turbulência no momento em que o Palácio do Planalto precisa fortalecer a articulação política no Congresso.

Em uma tentativa de amenizar o impasse, o presidente gravou um vídeo, que postou ontem nas redes sociais, agradecendo a “dedicação e o comprometimento do senhor Bebianno”. Foi uma estratégia combinada para evitar que o ex-auxiliar saísse “atirando”. O general da reserva Floriano Peixoto substituirá Bebianno, que era até hoje o único interlocutor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Planalto. Atual secretário executivo da pasta, Peixoto será agora o oitavo ministro militar na Esplanada.

Na mensagem para as redes sociais, em tom de trégua, Bolsonaro disse ter havido divergências entre ele e o ministro sobre “questões relevantes”, mas não especificou quais. “Comunico que desde a semana passada diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação”, afirmou o presidente no vídeo. “Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza”, completou, desejando ao ex-auxiliar “sucesso em sua nova jornada”. Antes, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que a exoneração de Bebianno ocorrera por “razões de foro íntimo.”

Ex-coordenador da campanha de Bolsonaro e responsável por levá-lo para o PSL, Bebianno caiu após um ruidoso embate público com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Na semana passada, Carlos o chamou de “mentiroso” por ele dizer que havia conversado três vezes com seu pai sobre a crise.

O clima azedou de vez após Bolsonaro ser informado de que o ministro deixara vazar para interlocutores mensagens de áudio com conversas privadas entre os dois. Antes disso, o nome de Bebianno foi citado em denúncias sobre um esquema de desvio de dinheiro do Fundo Partidário do PSL para patrocinar candidaturas laranjas, em 2018.

A agonia de um dos ex-homens fortes do governo se arrastou por dias. Para evitar que a crise contaminasse votações consideradas prioritárias para o governo no Congresso, como a reforma da Previdência, ministros do núcleo político, militares e até Maia tentaram convencer Bolsonaro a manter Bebianno no cargo. O plano não surtiu efeito e, então, os “bombeiros” políticos fizeram de tudo para construir uma “saída negociada”, que não deixasse o ex-ministro na “chuva”.

Emissários do presidente chegaram a oferecer a Bebianno uma diretoria de Itaipu Binacional e até uma embaixada em Roma ou em Portugal, para que ele saísse do Brasil. Bebianno, porém, não aceitou. “Trabalhei e fiz o que fiz por garra, não foi por emprego ou para ganhar dinheiro”, disse o ex-ministro à reportagem. “O tempo é o senhor da razão”. (Agência Estado)

Quem é
  • Advogado de formação e faixa-preta em jiu-jitsu, Bebianno tem 54 anos
  • Conheceu Bolsonaro em 2017, quando o presidente ainda era deputado federal
  • Se ofereceu para atuar em processos judiciais de Bolsonaro de graça
  • Após ganhar a confiança do então deputado, passou a ser um dos seus braço direito
  • Inclusive, em um acordo com Luciano Bivar, assumiu a presidência do PSL, quando Bolsonaro ingressou na legenda para concorrer à Presidência
  • Bebianno foi uma das figuras mais próximas ao presidente durante a campanha, atuando como conselheiro e na recuperação da facada