EDUCAÇÃO » Indicada ao MEC diz que ensino deveria vir da Bíblia

Publicação: 18/03/2019 09:00

Anunciada como secretária executiva do Ministério da Educação, segundo cargo mais importante da pasta, a educadora Iolene Lima já defendeu que o ensino deveria ser baseado “na palavra de Deus”. Em um vídeo de 2013, durante entrevista ao canal de TV evangélico Feliz Cidade, afirmou que o “primeiro matemático e geógrafo foi Deus” e “as crianças começam a ter contato com essas matérias no primeiro livro da Bíblia sagrada, o Gênesis”. Ela também defendeu organizar o currículo escolar “a partir das escrituras”.

A escolha de Iolene foi antecipada pelo blog de Renata Cafardo, do jornal O Estado de S. Paulo, na manhã do dia 14. De tarde, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, confirmou a informação, mas a nomeação ainda não foi publicada no Diário Oficial da União.

A educadora, que é evangélica, dirigiu uma escola batista em São José dos Campos, no interior paulista, que afirma em seu site ter “conteúdos curriculares dentro da cosmovisão bíblica”. Atualmente, atua na Secretaria de Educação Básica do MEC, à espera da promoção.

Na entrevista, Iolene diz que “uma educação baseada em princípios é uma educação baseada na palavra de Deus”. “O aluno vai aprender que o autor da história é Deus, o realizador da geografia é Deus. Deus fez as planícies, o relevo, o clima. O primeiro matemático foi Deus”.

Em outro trecho, ela exemplifica sua tese. “Uma coisa é o aluno ouvir: ‘Olha, você não pode escovar o dente com a torneira aberta’. Outra coisa é o aluno ouvir: ‘Você não pode porque tem um princípio bíblico que diz que você precisa cuidar de tudo, que é o princípio da mordomia. Deus deu, mas não é para esbanjar, é para cuidar’”, diz.

Se realmente assumir o posto, Iolene ocupará a vaga de Luiz Antonio Tozi, demitido na semana passada. De perfil técnico, ele havia trabalhado para o governo de São Paulo e fazia parte de um grupo que vinha aconselhando Vélez a dar um novo direcionamento para o ministério. Outros dois grupos brigam por poder na pasta: os chamados “olavistas”, ligados ao escritor Olavo de Carvalho - considerado “guru do bolsonarismo” - e os militares. A disputa política instalada no MEC já provocou o afastamento de sete funcionários, além do atraso de ações rotineiras, como a compra de livros didáticos. Não há nem sequer garantia de que Vélez vá continuar no cargo. Procurada ontem, a reportagem não conseguiu contato com Iolene.