ENTREVISTA - RAUL JUNGMANN » Em defesa de um partido de linha centro-progressista Ex-ministro e consultor do Porto Digital

Divane Carvalho
Especial para o Diario
divane.carvalho@diariodepernmbuco.com.br

Publicação: 24/08/2019 03:00

Raul Jungmann (sem partido), que comandou os ministérios da Defesa e da Segurança no governo Michel Temer (MDB), é o mais novo consultor do Porto Digital. Foi contratado no início deste mês para prestar serviços no Recife, Brasília e São Paulo junto a instituições acadêmicas de ciência e tecnologia e também nas esferas governamentais e no Congresso Nacional.

Apesar de se dedicar, agora, a uma atividade bem diferente da política, Jungmann avisa que está sem partido, mas não será por muito tempo: “A força dos fracos é a organização. Portanto, quando se fica do lado dos fracos, pertencer a um partido já é uma necessidade”, diz o ex-ministro, lembrando que não está fora da política, apenas assumiu o compromisso de não disputar nenhum mandato na eleição seguinte, quando tomou posse no Ministério da Segurança.

Entre uma consultoria e outra, ele se encontra para conversar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com o apresentador de TV Luciano Huck, com o ex-ministro de Justiça do governo Dilma Rousseff (PT) José Eduardo Cardoso, entre outros, que sonham acabar com a polarização instalada no Brasil, criando um partido centro-progressista, que seria a aglutinação das legendas PSDB, DEM, Cidadania e MDB.

Voto de opinião
Jungmann diz que, independentemente do compromisso que assumiu, as atuais e anteriores regras eleitorais tornaram muito improvável o sucesso de quem não tem uma clientela cativa de votos, como instituições, religiosas ou não, ou recursos financeiros. Além disso, os votos de opinião acabaram: “Sempre me elegi com votos de opinião, mas eles minguaram quando os eleitores entraram no processo de desinteresse, descrédito e desânimo com amplos setores da política”. Para ele, este é um fenômeno global porque se cobra da política o que ela não pode responder. Como exemplo diz que no sistema presidencialista do país não se pode responsabilizar o presidente pelo que faz o Congresso, mas a sociedade transfere para o presidente tudo que acha ruim. O ex-ministro lembra ainda que, além disso, agora tem também as redes sociais porque antes delas, a igreja, a ciência e a mídia compartilhavam as verdades com a sociedade. Mas atualmente não. Ele afirma que com as redes sociais, a verdade não é mais aferível. E qual seria o critério, pergunta o próprio Jungmann, para responder em seguida: “Havia um certo filtro da igreja, da ciência, da mídia que numa eleição conferiam a verdade dos candidatos. Não tem  mais, e tudo isso afeta o teor da democracia”.

Classe média

Outro problema citado é a redução da classe média que ele acha que ocorre também em termos globais, o que fez surgir o populismo, e aí os formadores de opinião não têm mais espaço. Ele acredita que é muito importante acabar com a polarização que se estabeleceu no Brasil, de um lado o PT preso à libertação de Lula e do outro lado o bolsonarismo se alimentando de certos valores de uma parcela do eleitorado: “De fato, uma política que se propõe democrática tem que ter compromisso, e isso o eleitorado envolvido na polarização não quer porque não quer assumir compromissos”. Para ele, um partido centro-progressista, defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seria o ideal, mas, por enquanto, os articuladores de uma possível nova legenda ainda estão conversando. Mas ele acredita, sim, que existe a possibilidade de fazer uma aglutinação no 2º turno da eleição presidencial em 2022, do PSDB, DEM, Cidadania e MDB para acabar com a polarização e eleger um candidato de centro.

Consultorias

Jungmann começou a fazer  consultorias no eixo Recife/Brasília/São Paulo  e conta que o principal objetivo do seu trabalho é  ajudar a impulsionar os projetos de fomento do Porto Digital. Com 328 empresas e 9 mil colaboradores, gera um faturamento anual de R$ 1,8 bilhão. O parque agrega tanto grandes empresas de tecnologia, a exemplo da Accenture, Microsoft, Google e Uber,  quanto os setores de inovação de grandes corporações, como o da FCA (Fiat e Chrysler Automobile). Além disso, abriga muitas pequenas e médias empresas e tem três incubadoras de startups. A visita semana passada do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e do secretário nacional de Segurança Pública, general  Guilherme Theophilo, ao Porto Digital, foi fruto de uma articulação realizada de Jungmann.

Luciano Huck

Ele também já conseguiu a confirmação da presença de grandes nomes nacionais, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do apresentador Luciano Huck, entre outros, que, por conta de sua articulação, participarão do Rec’n’Play, o maior festival do conhecimento, tecnologia da informação e economia criativa do Nordeste, que vai acontecer entre 2 e 5 de outubro, no Porto Digital, em parceria com o governo do estado, Prefeitura do Recife e Sebrae. O presidente executivo do Porto Digital é o professor Pierre Lucena, que assumiu o cargo em outubro do ano passado. Já o Conselho de Administração do parque é presidido pelo cientista Silvio Meira e tem entre seus integrantes pessoas de reconhecida expertise, como o consultor Cláudio Marinho, Francisco Saboya, entre outros.