Bolsonaro adota o silêncio. Planalto se divide

Publicação: 09/11/2019 03:00

A saída da prisão de Lula dividiu opiniões no Palácio do Planalto e foi recebida com silêncio pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que considera o petista seu principal adversário político.

Em Goiânia, onde participava da entrega de ônibus escolares, o presidente não comentou o assunto, se ausentou de entrevista programada e evitou os veículos de imprensa após a expedição da ordem de soltura.

Em caráter reservado, no entanto, disse a um grupo de auxiliares e aliados que a decisão do STF deve ser respeitada. Durante a cerimônia na capital goiana, minutos depois da decisão do juiz federal Danilo Pereira Junior, um assessor do Palácio do Planalto se dirigiu à tribuna de honra e mostrou ao presidente a tela de seu celular.

Bolsonaro ouviu em silêncio e, menos de um minuto depois, cochichou ao ouvido do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que estava sentado ao seu lado. Após a conversa, olhou para a frente e baixou a cabeça.Deixou o local sem comparecer a entrevista programada. A saída do presidente surpreendeu até mesmo a sua equipe de comunicação.

Se a soltura de Lula teve como resultado o silêncio de Bolsonaro, no Palácio do Planalto as reações se dividiram entre otimismo e pessimismo. Para integrantes do núcleo ideológico, formado por seguidores do escritor Olavo de Carvalho, a soltura do petista retoma a polarização da campanha eleitoral, entre direita e esquerda, o que pode fortalecer o apoio ao presidente contra uma volta do PT ao governo federal.

A avaliação desse grupo governista é a de que, no momento em que a rejeição de Bolsonaro apresenta um crescimento, como mostram as pesquisas de popularidade, o ressurgimento de um antagonista de peso pode ajudar a paralisar a alta entre eleitores de centro, em virtude do receio de uma eventual candidatura presidencial de Lula em 2022.

O chamado núcleo moderado, formado pela cúpula militar e pela equipe econômica, no entanto, não é tão otimista. Para esse grupo, a volta de Lula ao cenário político cria o risco de uma reorganização da oposição, que até então, na avaliação desses integrantes do governo, tem apresentado uma atuação tímida.

O receio é o de que esse novo cenário crie uma onda de manifestações no país, que pode fragilizar a imagem do governo e estimular retaliações no Congresso Nacional, como a obstrução de votações de interesse do Planalto.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, divulgou vídeo dizendo que “hoje é um dia muito triste para quem trabalha, para quem é honesto no país”, afirmou. (Da Folhapress)