Detalhes expostos elevam a tensão Divulgado nesta sexta-feira, vídeo de reunião ministerial teve xingamentos de Bolsonaro a governadores e citação de medo de sofrer o impeachment

Publicação: 23/05/2020 03:00

A divulgação, nesta sexta-feira, do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril mostrou grande preocupação de Jair Bolsonaro em ser destituído. O presidente da República revelou, também, que conta com sistema de informação particular, alheio a órgãos oficiais, e reforçou as indicações de interferência política na Polícia Federal.

O encontro, recheado de palavrões, ameaças de prisão, morte, rupturas institucionais, xingamentos e ataques a governadores e integrantes do Supremo Tribunal Federal, foi tornado público em quase sua integralidade pelo ministro da corte Celso de Mello.

A gravação da reunião foi entregue pelo governo ao STF no inquérito que apura as acusações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), que deixou o cargo acusando o chefe de tentar interferir politicamente na PF.

No encontro, de que participaram ministros (incluindo Moro) e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, entre outros, o presidente da República diz que tem um sistema “particular” de informação que funciona bem, diferentemente dos órgãos oficiais, reforça os indicativos de interferência na PF para proteger familiares e amigos e usa reiteradas vezes a palavra “bosta” e congêneres para se referir a políticos como os governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ). Foram ao menos 37 palavrões, 27 deles proferidos pelo presidente.

Bolsonaro cobra de forma veemente lealdade de ministros, cita diversas vezes o risco de que sofra impeachment, ameaça rupturas institucionais em caso de eventuais decisões de ministros do STF e defende que toda a população se arme para reagir a eventuais decisões de autoridades locais que ele considera serem ditatoriais. “Se reunindo de madrugada pra lá, pra cá. Sistemas de informações: o meu funciona. O meu, particular, funciona. Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, diz Bolsonaro.

Segundo interlocutores de Moro, a queixa de Bolsonaro foi um ataque ao então titular da Justiça. O presidente teria requerido à equipe do ministro que levantasse dados de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tinha se reunido com outras autoridades numa madrugada para tramar um processo de impeachment. Moro afirmou a ele que o encontro não existiu. O presidente, irritado, disse que sua rede de informações privada era mais eficiente.

Na sequência, Bolsonaro se queixa da falta de dados dos órgãos de inteligência e de uma suposta perseguição a irmãos. Então, faz uma declaração central para o inquérito que apura se ele tentou, de fato, interferir indevidamente na PF. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar f... a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!”. (Da Folhapress)