ELEIçõES 2020 » "Tem que escutar as necessidades das pessoas" Prefeito eleito do Recife, João Campos (PSB) fala sobre os seus planos para o futuro mandato

Filipe Assis
politica@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 01/12/2020 03:00

Embora a posse seja apenas no dia 1º  de janeiro de 2021, a gestão do prefeito eleito do Recife, João Campos (PSB), começa a ganhar cara hoje, quando ele terá a primeira reunião de transição com a equipe do atual prefeito, Geraldo Julio (PSB), para montagem do novo secretariado. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, Campos falou sobre o sentimento de vitória na eleição do último domingo, elegeu a educação como tema prioritário para  tratar no primeiro ato de mandato e sugeriu construir um fórum de diálogo com os prefeitos dos outros municípíos da Região Metropoitana do Recife.

Entrevista - João Campos // Prefeito eleito do Recife

Qual a sensação de ser eleito, aos 27 anos, o prefeito mais jovem da história do Recife?

Hoje eu tenho uma gratidão muito grande ao povo do Recife. E tão grande quanto essa gratidão é o senso de responsabilidade. A responsabilidade que a gente terá pela frente, de quatro anos que serão dedicados de maneira integral à nossa cidade, de manhã, à tarde e à noite, podendo honrar a confiança de tanta gente que votou na gente, com o sentimento de que agora a gente não governa apenas para quem votou na gente. A gente governa para todos e para todas. Então, é um sentimento de gratidão.

Durante a campanha, houve algum momento em que o senhor temeu a derrota?

Eu sempre fui muito determinado. O tempo inteiro a gente sabia onde queria chegar, a gente sabia o que estava construindo, a gente sabia o que estava sendo oferecido de propostas, de projetos para o Recife e quais eram as áreas prioritárias. Do que a gente precisava de fato fazer pelo futuro, para a geração de emprego e renda, o empreendedorismo...Sempre andei com muita serenidade, porque eu sabia que estava trilhando o caminho verdadeiro, um caminho de escuta às pessoas para poder levar uma mensagem concreta para as pessoas da cidade. Então, eu sempre fui muito otimista, ciente de que uma eleição no Recife sempre mantém a tradição de ser muito disputada, muito acirrada. Mas eu estava muito confiante, porque o caminho que a gente estava trilhando sempre foi em cima da verdade.

Em relação ao secretariado, o senhor já definiu como vai ser e qual o perfil?

A partir de amanhã (hoje), vamos começar a primeira reunião de transição com a equipe da gestão de Geraldo (Julio) e a gente vai, ao longo deste mês, poder conduzuir toda a conversa de organização do início da próxima gestão e de montagem de secretariado. Então, ela vai se dar ao longo deste mês.

Entre todos os planos para o seu governo, qual é o que o senhor vai priorizar e tentar implementar logo?
Nossa grande prioridade é a educação. A educação é o que transforma uma cidade e reduz desigualdades. Naturalmente, os resultados vêm com médio e longo prazos, mas a gente vai ter como foco absoluto da nossa gestão. Mas associado a isso, a gente vai poder fazer várias ações na cidade focando no emprego e na renda, focando no acesso ao crédito, focando em empreendedorismo, na desburocratização. As ações de saneamento, de regularização fundiária...Tudo isso vai ser feito de forma imediata, assim como o início do processo de construção do Hospital da Criança vai ser dado logo no início do governo, porque é uma obra importante, estruturadora, que leva algum tempo até ficar pronta, então nós vamos dar a largada logo no início.

Apesar de ter maioria na Câmara, o senhor vai assumir a prefeitura antes do fim da pandemia e sem grandes recursos em caixa. Espera um início de mandato turbulento?
O momento que o Brasil e o mundo passam é muito desafiadior. Ninguém nunca viveu uma pandemia dessa. Ninguém nunva viu algo parecido. Uma crise econômica e social grande. Mas eu vejo que o Recife vai conseguir, com todos os seus ativos e capacidades, fazer um movimento de largar na frente do resto do Brasil. Poder crescer mais do que as capitais nordestinas, porque a gente tem um  polo de serviços forte, a gente tem o segundo maior polo médico do pais, o maior polo educacional do Nordeste, o polo de tecnologia, que é referência no Brasil. Então, a gente tem esses serviços de vanguarda, que serão importantes para a nossa retomada a partir do próximo ano.

O PT era, até pouco tempo, aliado do PSB, inclusive com cargos no governo. O senhor já disse que não terá indicação política de ninguém do partido na sua gestão. É um compromisso?
É um compromisso. O nosso governo não vai ter indicação política do PT durante os quatro anos.

Como será a relação com o PT?
A gente dialoga na política, sempre, com todas as forças postas, com quem quer ajudar a cidade. O diálogo é sempre importante, e eu jamais vou me furtar a fazê-lo, porque eu acredito no diálogo. Agora são coisas diferentes. O diálogo construtivo, da parte de análise de administração. São coisas bem diferentes e isso aí está dentro do nosso compromisso. Eu acredito que, para vencer os principais problemas que ainda restam no Recife, a gente tem que ter uma unidade de força política grande, para poder transformar em execução de ação, e isso é o que a gente vai fazer. Montamos uma frente ampla, uma frente de partidos diferentes, com visões de mundo diferentes, mas que se juntaram em torno de um objetivo, que é fazer a qualidade de vida dos recifenses melhorar. E é isso o que a gente vai construir.

Na Região Metropolitana do Recife, a maioria dos prefeitos eleitos faz oposição ao PSB. Como será a relação com esses prefeitos?
Nós vamos manter o diálogo institucional sempre, com os prefeitos da Região Metropolitana. Tem vários desafios metropolitanos que não pertencem apenas à cidade do Recife. Você tem problemas de transporte coletivo, de habitação, segurança...todas essas ações são muito correlatas em cidades vizinhas. Então, nós vamos construir um fórum de diálogo permamente com os prefeitos da Região Metropolitana e tenho certeza de que muitos deles também devem compartilhar dessa visão, de que o diálogo é importante independentemente do partido político do qual ele é filiado. O diálogo entre as instituições é importante.

Em Olinda, o PSB apoiou João Paulo, que é do mesmo partido da vice-governadora Luciana Santos, em detrimento ao Professor Lupércio. Mas no segundo turno João Paulo declarou apoio a Marília Arraes. O senhor ficou decepcionado?
Nós vencemos a eleição e estamos aqui para governar a cidade. O povo mostrou que a gente trilhou o caminho certo, tanto que a gente teve uma vitória com a confiança de mais de 447 mil recifenses, e a certeza desse caminho que nós trilhamos é a mesma certeza e o mesmo caminho que a gente vai trilhar daqui para frente, fazendo política com correção, ouvindo as pessoas, e podendo fazer a força política não como um fim, mas um meio para transformar a vida das pessoas. E é assim que eu vou seguir.

O senhor ainda vê João Paulo como um aliado?

Eu não estou aqui para fazer julgamento de ninguém. A gente sabe que, em uma democracia, cada um tem o direito de se posicionar como quer. Eu tenho que agradecer à posição do meu amigo e colega deputado federal Renildo Calheiros, sempre me apoiando, do PcdoB de Luciana (Santos), de Luciano Siqueira, vice-prefeito de Geraldo (Julio), companheiro de luta, de história. A Frente Popular segue unida, e é assim que a gente vai fazer. Olhando para a frente. Quem está nos ouvindo, certamente, quer que a gente trabalhe para poder fazer com que a vida dela melhore. E a gente só faz isso se olhar para a frente, tiver a capacidade de unir, e não perder tempo com atos isolados da política.

O senhor conseguiu duas importantes vitórias nas duas eleições que disputou. Em 2018, foi o deputado federal mais votado da história de Pernambuco. Este ano, eleito o prefeito mais jovem do Recife. Já pensa no governo do estado, mesmo não podendo se candidatar em 2022, por causa da idade (a mínima para governador são 30 anos)?
De forma nenhuma. Fui eleito para governar a cidade do Recife e vou cumprir integralmente o meu mandato. Os próximos quatro anos vão ser de dedicação intensa e exclusiva à minha cidade, para a gente poder realizar o sonho dos recifenses, das crianças, dos jovens, melhorar a vida das pessoas idosas. O nosso foco vai ser o Recife. Eu vou estar de corpo, alma e coração, 100% no Recife.

O senhor teve o apoio de Ciro Gomes nesta campanha. Nacionalmente, já trata de uma aliança com o PDT em 2022?
Eu quero muito agradecer o apoio do PDT, do presidente Carlos Lupi, de Ciro Gomes e da companheira Isabella (de Roldão), que representa o PDT na chapa. A gente fez essa aliança, construída nacionalmente entre partidos do nosso campo, e foi materializada aqui no Recife. Foi muito importante e agora, naturalmente, a gente consolidou essa vitória. O PDT também ganhou, com o apoio do PSB, em Fortaleza, e a gente vai poder fazer o diálogo nacional, entre as direções partidárias, e o desenho que a gente espera para o Brasil a partir de 2022.

Como será sua relação com o presidente Bolsonaro?

Nós teremos absoluta tranquilidade para dialogar com o governo federal, entendendo que as instituições devem sempre manter uma capacidade de diálogo e construção. Para fazer isso, a gente tem que fazer um bom dever de casa. Fazer projetos, fazer o dever da boa gestão pública, para buscar as parceria com o governo federal. Tenho absoluta tranquilidade que a gente vai poder, inclusive, aproveitar o canal que a gente construiu em Brasília como deputado federal para ser um canal permanente de parcerias entre as instituições e a cidade do Recife.

Mas politicamente o senhor se coloca como oposição a Bolsonaro...

Nosso partido faz parte do bloco de oposição ao governo federal. Naturalmente, eu não fui eleito com o voto de todos os recifenses. Mas vou governar com todo o carinho e afeto para todos os recifenses, porque quem está à frente de uma gestão do poder executivo tem que escutar as necessidades das pessoas, e não as necessidades de suas conveniências políticas.