Quase seis meses de desgaste político Desde o início da CPI da Covid-19, no fim de abril, o presidente Jair Bolsonaro convive com queda de popularidade e aumento da insatisfação da população com o governo

Ananda Barcellos e Elizabeth Souza
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Publicação: 21/10/2021 03:00

Com o desenrolar dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o Governo Bolsonaro passou a amargar um ritmo acelerado de queda de popularidade. Resultado das revelações polêmicas feitas pela Comissão, como omissões do governo federal no combate à pandemia, a existência de um gabinete paralelo, ofertas de vacinas ignoradas, além de indícios de um esquema de corrupção na obtenção de imunizantes. Questões que podem trazer sérias consequências em 2022, caso o presidente tente uma reeleição, já que com a perda do posto de “favorito” Bolsonaro vem perdendo pontos percentuais significativos nas pesquisas eleitorais divulgadas ao longo deste ano.

Em janeiro de 2021, uma pesquisa do Datafolha sobre a avaliação do presidente Bolsonaro mostrou que naquele mês 31% dos brasileiros consideravam ótimo ou bom o desempenho do chefe do Executivo; já em dezembro de 2020, a avaliação era de 37%, naquele mesmo mês, 32% consideravam o governo ruim ou péssimo, no mês seguinte esse número saltou para 40%. Em maio, algumas semanas após a instalação da CPI da Covid-19, o Datafolha divulgou outra pesquisa que constatou a menor aprovação do governo desde o início do mandato. De acordo com os dados, em março Bolsonaro alcançou uma aprovação de 30% (em maio esse número era de 24%).

Em agosto, a Pesquisa PoderData apresentou outro recorde de desaprovação, apontando que 64% dos brasileiros e brasileiras reprovavam a gestão bolsonarista, no início de julho essa porcentagem era de 61%. Outra pesquisa mais recente, realizada pela Quaest Consultoria, divulgada no início de outubro, mostrou que houve mais um recuo na aprovação ao governo Bolsonaro, saindo das casas dos 23% para 20%. Com a conclusão das atividades da CPI da Covid-19 realizada ontem, é inegável constatar os impactos causados no governo do presidente Jair Bolsonaro, que além da queda de popularidade, vê, à sua frente, crescer o favoritismo em torno do ex-presidente Lula (PT).
 
Principais momentos
 
Depoimento de Mandetta

Primeiro a depor na CPI da Covid-19 e a denunciar a existência de um gabinete paralelo, Henrique Mandetta deixou o Ministério da Saúde em abril de 2020. À CPI, disse que o Ministério da Saúde e a presidência divergiam no combate à pandemia, chegando a classificar como “constrangedora” a situação vivenciada.

Roberto Dias
O ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi acusado de perjúrio ao afirmar que não tinha marcado encontro com o policial Luiz Paulo Dominguetti - representante da Davati Medical Suppy - no dia 25 de fevereiro. Através de mensagens obtidas no celular de Luiz, a CPI verificou que havia troca de áudios confirmando o encontro, contradição que motivou voz de prisão contra o ex-diretor.
 
Corrupção

Documentos obtidos pela CPI revelaram que o valor contratado pelo governo brasileiro na compra das vacinas Covaxin foi superfaturado, ficando bem acima do preço inicialmente previsto pela fabricante da vacina, Bharat Biotech, de U,34 por dose. O superfaturamento da vacina levantou suspeitas de que a Precisa Medicamentos estaria sendo favorecida no esquema de corrupção.
 
Irmãos Miranda

Os irmãos Miranda, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, e Luis Claudio, protagonizaram um dos capítulos mais importantes da CPI. O deputado foi quem identificou e denunciou as irregularidades na compra da Covaxin e os dois afirmaram que procuraram o presidente para alertar a questão, mas Bolsonaro não deu a devida importância.
 
Pfizer

101 foi o número de e-mails da Pfizer oferecendo vacinas ao governo federal em 2020. Durante as investigações foi descoberto que a farmacêutica tinha o objetivo de tornar o Brasil vitrine de vacinação. Tentando contactar o governo federal desde o dia 17 de março de 2020, o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, disse que se o contrato tivesse sido fechado, a imunização teria começado ainda em dezembro de 2020.

Prevent Senior

Um grupo de ex-médicos do plano de saúde Prevent Senior apresentou dossiê denunciando irregularidades no plano. O documento denunciava a disseminação de cloroquina e outras medicações aplicadas como teste, chegando até a omitir o número de pacientes que vieram a óbito.

Testes

Os testes eram feitos sem o conhecimento dos pacientes envolvidos e, de acordo com o grupo de profissionais da saúde, seria fruto de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent Senior. Em seu depoimento, o diretor-executivo do plano de saúde, Pedro Batista Júnior, acusou os médicos de manipulação dos dados da planilha, na tentativa de desconstruir a acusação inicial.