Ex-ministros fazem críticas a Bolsonaro Abraham Weintraub e Ernesto Araújo dizem ter ficado isolados no governo após o movimento de aproximação do presidente com o Centrão

Raphael Felice
do Correio Braziliense

Publicação: 19/01/2022 03:00

Os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) fizeram críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) durante participação em uma live que contou com outros nomes do espectro conservador da política nacional. A dupla participou do programa on-line Conserva Talk, ao lado do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do pastor Silas Malafaia.
 
Weintraub e Araújo já não são lembrados pelo presidente há um tempo. Mesmo assim, não dá para dizer que a dupla foi abandonada pelo governo. O antigo chefe do Ministério da Educação, demitido do cargo em junho de 2020, foi indicado pelo governo federal para cargo no Banco Mundial, onde, em dólar, recebe um salário mensal que supera os R$ 100 mil. Já o ex-chanceler foi alocado em uma secretaria da pasta de Relações Exteriores, após sair do comando da diplomacia brasileira.
 
O sentimento de dois dos nomes que representavam o núcleo duro bolsonarista e que tinham apreço de parte dos apoiadores do presidente é de abandono. “Fomos substituídos por essa turma do Centrão”, afirmou Weintraub. Salles disse ter ficado isolado “quando o Centrão começou a dominar e pautar o governo”.
 
O membro do Conselho da Diretoria Executiva do Banco Mundial também revelou, em participação no podcast Inteligência Ltda., que o presidente Bolsonaro soube antecipadamente de uma investigação contra Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas.
 
“Vou contar uma coisa aqui que acho que nunca contei em público. Eu estava no governo de transição, em novembro, e fui chamado para uma sala com pouca gente. [Bolsonaro] Juntou uma mesa comprida e falou: ‘Ó, o seguinte. Está para aparecer uma acusação, que está pegando esse cara aqui (apontou para o Flávio). O governo não tem nada a ver com ele. Se ele cometeu alguma coisa errada, ele vai pagar por isso’”, relatou Weintraub.
 
Apesar de ter defendido que Bolsonaro não tentou proteger Flávio, a declaração pegou mal, pois revelou vazamentos de investigações ao presidente. Ao ser questionado por um dos apresentadores do podcast sobre as ações do governo no sentido de proteger Flávio, o ex-ministro recuou e disse que não iria falar mal do chefe do Executivo, ‘com quem havia trabalhado’. A reunião teria ocorrido ainda no governo de transição. Segundo o relato, também estavam presentes outros ministros da pasta à época, como Onyx Lorenzoni, Gustavo Bebiano e Alberto Santos Cruz.