Brenno Costa, Ana Paula Santos e Maria Eugênia Nunes (texto)
esportes.pe@dabr.com.br
Bernardo Dantas (fotos)
Publicação: 14/09/2014 03:00
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Quero-quero sonha com uma olimpíada. E não quer ir somente para participar |
Mal sabia que rápido mesmo era a mudança que a vida iria lhe apresentar. Kerolayne logo encontrou o lançamento de martelo como esporte preferido, um ano depois. Tornaram-se inseparáveis. “Queria uma aventura. No lançamento de martelo, se cair, você já sabe para onde vai”, conta, rindo.
Mas o esporte nunca a levou para o chão. Pelo contrário. Foi nele que Kerolayne aprendeu a voar. Dentro da gaiola, local em que realiza o lançamento, virou Quero-quero, e foi longe para ser referência no estado entre as mulheres. Tem mais de 20 títulos. Desde os 15 anos, está entre as três melhores da categoria em que compete. Hoje, com 22, ocupa o quinto lugar do ranking nacional adulto. “Tudo começou com um professor que não sabia chamar meu nome muito bem. Era um quero pra cá, quero pra lá, por causa do começo do meu nome. Então, surgiu Quero-quero”, lembra. “Ao redor da gaiola do Santos Dumont também é cheio de quero-quero. Nenhum deles zomba de mim, mas todo mundo aqui tira muita onda com o meu apelido.”
Transpiração
Kerolayne cresceu no esporte com muita dedicação. Tem uma rotina dura. Treina de manhã. Tem um estágio à tarde. Cursa educação física à noite, com uma bolsa de estudo que conquistou. Acorda às 4h30 todos os dias e só fecha a porta de casa às 23h30. Não cansa. Já faz isso há praticamente quatro anos. “Nunca precisei tirar ela da cama”, garante a sua mãe, Maria Edilza da Silva, 52 anos.
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Quero-quero sabe que é mais transpiração do que inspiração. Por isso, leva a vida regrada desde cedo. No terraço da casa simples em que vive com os pais e o irmão, que deixou o atletismo para servir ao exército, lembra que concluiu o colégio aos 17 anos, no tempo certo. Passou longe de qualquer desvio que apareceu durante a caminhada. Assim, cresceu na vida e de tamanho. Sem abandonar a agenda de treinos, ela hoje tem um porte físico avantajado. Com 1,72 metro, pesa 82 quilos. Reflexo também de uma menina que já nasceu grande. Tinha com 4,5 quilos e 56 centímetros. Parecia moldada para o esporte, que exige muita força.
Sonho
Mas a força do lançamento do martelo também precisa ser psicológica. Quero-quero sabe. Por mais que tenha momentos de instabilidade quando não alcance o resultado esperado. Chora. Já cogitou desistir. Mas, quando olha para trás, vê o quanto já voou. E ainda voa para o destino certo. O céu é a Olimpíada.
Mas a atleta sabe que tem um longo caminho pela frente. Até porque esbarra na tradicional falta de estrutura, patrocínio e no próprio nível de exigência. “Se eu for fazer uma lista do que preciso, não vai caber nesse caderno”, declara, determinada. “Se eu for para Olimpíada, eu também quero ir para fazer o melhor. Não é só participar. Quero chegar em uma final. Quero fazer história e representar meu estado”, acrescenta. Não sabe ela que já fez.
Saiba mais
A modalidade estreou nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900. Nesse ano, contou com a presença de apenas cinco lançadores, todos homens. Na época, era feito o lançamento de um martelo propriamente dito. As mulheres começaram
a competir em 2000, na Olimpíada de Sidney, na Austrália. A prova requer do atleta equilíbrio de força, técnica e concentração. Os rankings da prova são compostos, em sua maioria, de atletas do leste europeu.
1º ato
O primeiro passo do lançamento é balançar o martelo como um pêndulo, com o corpo parado
86,74m
Recorde mundial masculino, de Yuriy Sedykh, da extinta União Soviética, assinalado em 30 de agosto de 1986, em Stuttgart
2º ato
Com o corpo parado, o atleta gira o martelo três ou quatro vezes antes de pegar velocidade
79,58m
Recorde mundial feminino, de Anita Wlodarczyk, da Polônia, estabelecido em 31 de agosto de 2014, em Berlim
3º ato
Com o martelo já em velocidade, o atleta começa a girar junto com o objeto
75,21m
Recorde masculino brasileiro, do pernambucano Wagner Domingos (São Bernardo/SP), cravado em 24 de agosto de 2014
4º ato
Depois de mais quatro ou cinco giros, o atleta levanta os braços
e lança o martelo
62,13m
Recorde feminino brasileiro, da gaúcha Carla Michel, cravado em 14 de junho de 2014
Quero-quero
Kerolayne Camila da Silva
Nascimento
10/6/1992
Idade
22 anos
Peso
82kg
Altura
1,72m
Clube
Atletismo
Campeão
5º lugar
no ranking nacional
56,49 m
Melhor marca
Técnico
Abraão Nascimento
PRINCIPAIS TÍTULOS
n Vice-campeã
Brasileira Juvenil
n Vice-campeã
universitária