Diario esportivo

por Fred Figueiroa
Twitter: @fredfigueiroa
fredfigueiroa@gmail.com

Publicação: 18/07/2018 03:00

Brilho eterno...

Há algum tempo perdeu o sentido o velho tabu da relação torcedor/profissional que, por tantas décadas, pesou e inquietou os que trabalham diretamente no jornalismo esportivo. O tabu ruiu com a imposição das redes sociais sobre as as mídias tradicionais e, consequentemente, uma relação mais próxima entre quem produz e quem consome a informação. A proximidade acaba conduzindo a uma franqueza e transparência maior. E, particularmente, nunca vi problema nesta quebra de paradigma, desde que este não se torne um escudo para deslizes passionais - cá entre nós, esses vez por outra acabam passando (e sempre passaram, com ou sem tabu) - e, fundamentalmente, éticos (esses sim jamais podem ser aceitos).  A verdade é que é  quase inerente ao profissional desta área ter uma bagagem de torcedor. Crescemos nos estádios, na frente da TV, com o ouvido colado do rádio, colecionando revistas e álbuns de figurinha. E até que se torne real a tecnologia capaz de deletar todas as nossas memórias e sentimentos - possibilidade explorada no lindo filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças - é simplesmente impossível apagar o passado, mudar o DNA. O fundamental é entender sua função e sua responsabilidade enquanto profissional e saber dividir o tempo, as mídias, as leituras e interpretações.

Hora de voltar

A abertura deste texto é a introdução do meu retorno à coluna depois das férias calculadamente programadas para a Copa do Mundo. Fui para a Rússia como torcedor - reconstruindo inclusive minha relação que era absolutamente fria com a Seleção - e sem a obrigação de escrever uma linha sobre o Mundial. Confesso que quase todos os dias senti falta de escrever algo mais que mini-textos de 200 caracteres no Twitter.  Mas um “probleminha” na tela do notebook me ajudou a desligar (quase) de vez o meu lado profissional. Foi uma experiência fantástica viver a Copa intensamente e livremente. Até porque, no Mundial, o jogo de futebol é essencialmente um evento de entretenimento. Divertido, leve. Vencer é uma alegria. Aqui, no nosso bom e velho dia a dia de extrema dificuldade dos nossos clubes, vencer quase sempre é um profundo alívio. E nem vou me alongar aqui nas questões estruturais em torno da experiência de ir a um estádio. Seria repetitivo até porque vivemos esse abismo de perto em 2014. A gente sabe muito bem como é diferente ver um jogo da Copa na Arena de Pernambuco e uma partida do Santa ou Sport no Arruda ou Ilha do Retiro.  E, para deixar claro, na experiência dentro do equipamento esportivo (desconsiderando o acesso e as possibilidades de transporte), o padrão da Arena de Pernambuco (conforto, visibilidade, acabamento, áreas internas) é basicamente o mesmo dos estádios da Copa de 2018.  

Como seguir sem o VAR?

Nesta transição da Copa do Mundo para a realidade do futebol brasileiro, o que mais me causa incômodo é a não utilização do VAR. A votação no conselho arbitral antes do início do Brasileiro já foi tema de mais de um texto meu. Entendi o posicionamento dos clubes que se negaram a pagar a conta pela implantação da tecnologia (custaria quase R$ 1 milhão para cada uma das 20 equipes), mas ainda assim discordei. Claro que este custo era pra ser da CBF. Isso é indiscutível. Mas esta pressão poderia ficar para 2019 e, nesta temporada, pagar a conta para garantir arbitragens mais precisas. Na última segunda-feira a volta à realidade foi brusca no jogo entre Vasco e Bahia pela Copa do Brasil. Os baianos - mesmo classificados - deixaram São Januário revoltados e prometendo ações contra o árbitro pelos supostos erros cometidos. Sem o VAR, tarde demais.

De volta à programação normal

A reabertura da Série A depois de 35 dias será justamente com o clássico nordestino entre Ceará e Sport, no Presidente Vargas. A mudança do estádio (saindo do Castelão) já traduz o sentimento dos donos da casa para este duelo. Lanterna com apenas 5 pontos, o Ceará de Lisca aposta todas as fichas numa vitória sobre o Leão como recomeço. E tem razão para isso. Mesmo com uma campanha acima do esperado, o Sport é um dos times “acessíveis” para ser vencido pelos adversários mais fracos. Foi assim, por exemplo, contra o Vasco. Naquele jogo, os rubro-negros abriram mão de uma marcação mais intensa e fizeram um jogo aberto e vulnerável. Hoje Claudinei desenhou um time teoricamente muito ofensivo, só com um volante (jamais faria isso contra Flamengo, Grêmio ou Cruzeiro, certo?). Assim, o Leão vira uma incógnita para a partida. Por isso, espero para ver.  Amanhã farei uma leitura detalhada do retorno do Sport ao Brasileiro. De volta à nossa programação normal.