TRANSFORMAR » Muito além de 13 histórias Na última matéria da série Transformar, o Superesportes conta as histórias de vida de alguns dos atletas do time, repletas de percalços, mas unidas em torno de uma palavra: superação

Marina Maranhão
esportes.pe@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 23/10/2018 03:00

Cinco vezes campeão mundial, terra natal de inúmeros craques da bola como Pelé e Ronaldo, o Brasil é conhecido como o país do futebol. Em nossa cultura, é difícil encontrar um homem que não tenha ganho uma bola de presente quando criança. Ser jogador de futebol é um sonho para a maioria. O time de futsal Transviver FC ajuda a manter esse sonho vivo nos homens transexuais que participam da iniciativa.

Além disso, a integração e socialização que os treinamentos proporcionam são importantes para aumentar a autoestima dos participantes, através da identificação e troca de experiências. Dentro do grupo é possível sair da margem da sociedade e ser visto pelo outro. Os rostos ilustrados abaixo representam milhares de trans que foram excluídos das peladas da escola e do bairro pelo preconceito e lutam diariamente para que seus direitos sejam reconhecidos.

Para promover a inclusão e aumentar a visibilidade dos meninos, a idealizadora do projeto, Regina Guimarães, fundou o clube em julho deste ano. Nele, os meninos encontraram muito mais do que um espaço seguro para a prática do esporte; encontraram um lugar onde são livres para ser quem são de verdade, sem medo. Com treinos semanais aos domingos, eles combatem a intolerância e reescrevem a narrativa das suas vidas com a bola nos pés.
 
Apollo Arantes
zagueiro 29 anos
Graduado em Ciência Biológicas, interrompeu a primeiro tentativa de transição aos 22 anos, quando sofreu um ataque dentro de um transporte coletivo. Após ser identificado como um homem cis gay, foi agredido fisicamente e verbalmente por vários homens. Recomeçou a transição em 2017.
 
Eduardo Lira
atacante 24 anos
Como tantos outros, acreditava ser homossexual e se descobriu trans enquanto estava casado com uma mulher. Quando assumiu sua transexualidade para a esposa, foi rejeitado. Ela não queria um “homem de mentira”. Vai começar o tratamento hormonal em janeiro de 2019.
 
Gustavo Felipe
Goleiro 32 anos
Gustavo teve que suar muito para compensar a baixa estatura numa posição que exige envergadura: o gol. Na escola, já havia integrado times de futsal e voleibol, tendo vivido intensamente o mundo esportivo. Gustavo trabalha como gerente numa hamburgueria e aguarda para fazer sua mastectomia no Hospital das Clínicas.
 
Luís Gabriel
Zagueiro 21 anos
Comerciante e torcedor do Santa Cruz, Gabriel chegou a casar com um homem e teve uma filha. Sofreu muito preconceito no ambiente familiar, mas tem um bom relacionamento com a filha, que corrige a gafe dos amigos do pai quando eles confundem o “ele” com “ela”.
 
Áslan Victor
Meia 29 anos
Além de torcedor do Sport, é instrutor de muay thai e barbeiro. Achava que era lésbica até se descobrir transexual. Criado apenas pela mãe, foi bem aceito por ela com a sua descoberta. Seu filho Carlos Frederico se espelha no pai e até quer trocar o nome para Áslan Victor Júnior. Haja inspiração!
 
Nícolas Daniel
Meia 31 anos
Percebeu que seus gostos não coincidiam com os das amigas na escola antes dos 15 anos. Até se descobrir homem, conviveu durante muito tempo sem entender o que estava acontecendo. Adotou junto com a namorada um bebê que havia sido abandonado pelos pais.
 
Luiz Fernando
Meia 17 anos
O caçula da turma, até se descobrir homem enfrentou o que chamou de “luta interna”. Hoje, feliz consigo mesmo, passou por crises de ansiedade e procurou apoio médico e psicológico até se aceitar como é. Ainda não começou o tratamento hormonal, mas pretende iniciá-lo quando tiver independência, já que ainda é muito jovem.
 
Breno Henrique
Ala 21 anos
Trabalhando como vendedor desde garoto, foi criado em uma família religiosa. Atuando nas quadras desde pequeno, chegou a passar em grandes times, como no Sport. Nunca gostou de “coisas” de menina e tem mais facilidade de atuar pelas laterais da quadra.
 
Guilherme Henrique
Atacante 18 anos
O processo de identificação como homem ocorreu há cerca de três anos. Demorou a se aceitar, mas, com ajuda da ex-namorada, passou a ter acompanhamento no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros. Tem características ofensivas dentro da quadra.
 
Júlio César
Atacante 37 anos
Antes de se descobrir homem, acreditava ser homossexual. Sua família, de Limoeiro, aceitou a sua decisão e conheceu uma ex-namorada dele, mas ele não mantém uma relação próxima dos seus parentes. Ele mora no Recife e trabalha como massagista e tosador.
 
Vinícius Ruz
Zagueiro 24 anos
Foi expulso de casa, em Caruaru, pelo pai e veio para o Recife, estudar educação física na Universidade Federal de Pernambuco. Descobriu-se transexual aos 14 anos. Torcedor do Sport, gosta de atuar como zagueiro.
 
Gabriel Silva
Ala 30 anos
Quando criança rezava todas as noites para acordar um homem cis. Só descobriu que existiam homens transexuais e que se identificava como um aos 28 anos. Faz tratamento hormonal há sete meses.  
 
André Alves
Pivô 19 anos
Encontrou no Transviver FC uma forma de seguir praticando o esporte após a transição. Considera o tratamento hormonal “a melhor que coisa que já aconteceu na vida”. Tem o apoio da mãe, que, por ser enfermeira, aplica as injeções de testosterona no filho.