Diario esportivo

por Fred Figueiroa

Publicação: 04/12/2018 03:00

O Sport rebaixado
 
Parte dos torcedores presentes na Ilha, talvez até a maior parte, aplaudiu os jogadores abatidos no gramado com a notícia do fim do jogo na Arena Condá entre Chapecoense e São Paulo. O resultado em Santa Catarina selava o rebaixamento do clube rubro-negro. Uma queda que vinha se desenhando e se materializou com a continuidade de erros - administrativos e de condução do futebol - que implodiram o Sport. Não foi uma mudança de divisão, um acidente de percurso. Longe, muito longe, disso. Antes do descenso, o Sport foi rebaixado enquanto clube, enquanto instituição. Viu parte importante da sua história e da sua imagem ser destruída por uma gestão danosa. Cair de divisão, por pior que seja - e isso nunca deve ser minimizado - parece o menor dos problemas tamanho o caos em que clube se encontra. Um prejuízo de dezenas de milhões de Reais e a escassez de receitas distanciam o caminho para a crise instalada. Financeira, técnica e moral.
 
O presidente
O presidente Arnaldo Barros é o grande culpado pela implosão do clube. E este é o capítulo que deixará escrito na história rubro-negra. Nenhuma outra gestão causou danos tão profundos e com tantas ramificações. A soma de erros é impressionante. E a insistente negação destes erros direciona para outra parte fundamental do quadro de colapso administrativo: A bolha que cercou o presidente. Ou que ele mesmo construiu em torno de si mesmo. A ordem dos fatores pouco importa. Mas dirigentes e conselheiros que agiram como uma rede de proteção contribuíram diretamente para que ajustes necessários não tenham sido feitos. As chances apareceram. Mais de uma vez. E foram desperdiçadas. Faltou autocrítica. Faltou leitura de cenários. E faltou, fundamentalmente, grandeza. Inclusive depois do rebaixamento. O silêncio de Arnaldo é ensurdecedor. Vergonhoso, inclusive. Na entrevista coletiva pós-jogo, o treinador Milton Mendes - que comandou a equipe em 12 partidas - foi o único a dizer algo e limitou-se ao recorte em que trabalhou. Procurado por jornalistas, o diretor de futebol e um dos maiores escudeiros de Arnaldo durante toda a gestão, Aluísio Maluf, até falou. E tentou, absurdamente, seguir a mesma linha do técnico. Veio e segunda-feira e o silêncio permaneceu. Substituiu as bravatas.
 
A raiz
Onde está a raiz do rebaixamento? Na minha visão, o ponto de partida está em dezembro de 2017. O Sport estava praticamente rebaixado quando encaixou uma série final de três vitórias e foi beneficiado por uma combinação de resultados. A permanência acabou varrendo para baixo do tapete uma série de erros cometidos desde a primeira semana da gestão. Na semana decisiva, inclusive, o elenco estava com dois meses de salários atrasados. Arnaldo, então, foi a público dizer que eram apenas dois dias - criando mais um mal estar interno. Era fundamental um freio de arrumação. Era decisivo zerar o processo, aparar as arestas. E isso começaria, necessariamente, pela diretoria de futebol. Mas nada aconteceu. Os problemas foram empurrados com a barriga e - como seria diferente? - se ramificaram em 2018. E aí tudo se multiplicou. Outro ponto decisivo para o rebaixamento foi o período da Copa do Mundo, quando nenhum reforço foi contratado. Apesar da campanha surpreendente até o momento, internamente, a corrosão seguia. Crise financeira, crise de relacionamento...Mais do mesmo.
 
Os aplausos
Por tudo isso, os aplausos da torcida para o time rebaixado foram justos. O elenco é limitado e não conseguiu render acima da sua baixa média. Os treinadores que passaram tiveram trabalhos irregulares. Mas nunca foi tão claro que não são os protagonistas do fracasso. Até porque são profissionais com - pelo menos - três salários atrasados. Alguns jogadores falam em quatro. Rogério, em seu perfil no Instagram, disse que eram cinco (talvez já incluindo o décimo terceiro). Ninguém em sã consciência pode culpá-los. A torcida, racionalmente, não os sentenciou. Conscientemente, todos sabiam que o problema não estava ali. Não começou, nem terminaria ali. A perspectiva para 2019 é de terra arrasada, a começar pela redução em - no mínimo - cinco vezes do valor da cota de TV. Há risco de o Sport ter sua receita anual reduzida pela metade (caindo para a faixa dos R$ 50 milhões). E ainda tem os quatro ou cinco salários abertos, os poucos bons jogadores deixando o clube (com este tempo de atraso ficam livres para negociar) e uma série de imbróglios judiciais pendentes...Precisaria de uma página inteira para listar os danos e suas consequências. Mas, inevitavelmente, ainda virão novos capítulos desta crise.