DIARIO ESPORTIVO » Anatomia de um crime

por Fred Figueiroa

Publicação: 22/02/2020 03:00

Sempre que escrevo sobre as organizadas volto ao mesmo ponto de partida. Um episódio que aconteceu há seis anos, em um posto de gasolina da cidade de Mamanguape, na Paraíba. Não é o mais grave, o mais violento ou o mais revoltante. Nem de perto. Mas é fundamental para entender a lacuna histórica de atuação efetiva do poder público que permitiu a ramificação e consolidação destes grupos na sociedade. Era 2014. Integrantes do grupo organizado Jovem retornavam de Fortaleza em dois ônibus quando decidiram saquear um posto na BR-101. Dezenas de pessoas invadiram roubaram os produtos da loja de conveniência. Poucos quilômetros depois foram parados na estrada pela Polícia Militar e ficaram detidos até que um outro grupo viesse do Recife trazendo, em dinheiro, o valor de tudo o que foi roubado. Quando o pagamento foi feito, todos foram imediatamente liberados.

Na reportagem da época, publicada em um grande jornal do Recife, os integrantes da organizada foram definidos como “torcedores” e “vândalos”. A Polícia - pela forma com que conduziu o caso - também minimizou o crime. Desde o dia que li aquela reportagem me questiono o que diferencia este tipo de assalto de qualquer outro. Que “lei” é essa que permite aos assaltantes pagarem o valor do roubo e ter o crime sumariamente anulado?

Esta é a lei que está em prática há anos em Pernambuco. Com uma conivência considerável dos clubes e - durante muito tempo - também da imprensa. Esta última começou a mudar a forma de abordagem desses grupos organizados nos últimos anos - sobretudo a partir do brutal assassinato no Arruda quando um vaso sanitário foi atirado do segundo andar do estádio na cabeça de um homem. Mas foram muitos anos de erros. A começar pelo uso do termo “torcedores” para definir os membros desses grupos - que têm na violência gratuita um elo muito mais forte que o próprio futebol. Este, na verdade, é apenas um escudo e um meio de propagação. Na hora em que uma organização rouba, mata e agride pessoas - inclusive em dias onde não há jogos - não deve ser tratada como uma “torcida”. Até porque, já está mais do que claro, que não se tratam de torcidas.

Na sexta-feira, três dias depois da decisão da Justiça de extinguir as organizadas em Pernambuco, a Polícia Militar cumpriu mandados de busca e apreensão nas sedes das facções Jovem e Inferno Coral - as duas investigadas pela prática de organização criminosa, sendo vistas como associadas a atos como roubos, agressões e tentativas de homicídio. Parece que, enfim, os primeiros passos para enfrentar o problema de frente estão sendo dados. Mas outros serão fundamentais. Sempre invertendo o ponto de partida deste texto. O oposto do que aconteceu no posto de gasolina da Paraíba. Crimes precisam ser tratados como crimes. E criminosos como criminosos. Ser integrante de organizada não pode, de forma alguma, servir de escudo ou de atenuante para os repetidos e repugnantes atos de violência.
 
O 1º acerto de Daniel

Neste sábado começa a era Daniel Paulista no Sport em um jogo crucial para as pretensões do clube na Copa do Nordeste. Não só na busca pela classificação, mas para não deixar Fortaleza e Bahia abrirem vantagem na 1ª e 2ª posições - o que garante o mando de campo nas quartas de final. Diante do América, a principal mudança promovida pelo novo técnico é a opção por Rithely no time titular. Um acerto. No time de baixo, o processo para o volante recuperar seu potencial é inócuo. Falta continuidade para as jogadas.
 
Incompatibilidade
A permanência de Jorge Henrique no elenco do Náutico para 2020 é injustificável. E a insistência de Dal Pozzo em acionar o atacante tem exposto ainda mais esta incompatibilidade entre a capacidade física do jogador e o nível de desempenho mínimo necessário para a temporada. O gol perdido contra o Botafogo elevou o desgaste com a torcida. Para completar, teve uma atuação péssima na derrota do time B, sexta à noite, para o Central.