Tóquio 2020 será em 2021 Cancelados três vezes por causa das grandes guerras mundiais, Jogos Olímpicos são adiados pela primeira vez na história, devido à pandemia do coronavírus

JOÃO DE ANDRADE NETO
ANA BEATRIZ VENCESLAU
joao.neto@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 25/03/2020 03:00

Uma decisão histórica. Pela primeira vez, desde a edição inicial dos Jogos na era moderna, em 1896, em Atenas, a realização da Olimpíada foi adiada - em outras três ocasiões, ela foi cancelada, por causa das guerras mundiais. A decisão, também válida para a Paralimpíada, foi tomada ontem, após uma teleconferência entre Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), e Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão, motivada pela pandemia do coronavírus, que já infectou mais de 418 mil pessoas em todo o mundo, com mais de 18,6 mil mortes. O comitê organizador ainda não informou a nova data para a realização dos Jogos, mas adiantou que eles deverão ocorrer no verão de 2021, sendo pela primeira vez disputados em um ano ímpar. Apesar disso, o nome Tóquio 2020 será mantido.

Antes, as Olimpíadas tinham sido canceladas em três ocasiões, todas por causa das duas grandes guerras mundiais. Em 1916, as competições que seriam realizadas em Berlim, só foram disputadas em 1920, na Antuérpia, Bélgica. Anos depois, mais duas edições também foram canceladas, em 1940 e 1944, com a curiosidade que a primeira também seria realizada em Tóquio. A outra estava marcada para Londres, que enfim recebeu os jogos em 1948, não tendo interrupções desde então. A capital japonesa só receberia os Jogos pela primeira vez em 1964.

“Nas atuais circunstâncias, e com base nas informações fornecidas pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o presidente do COI e o primeiro-ministro do Japão concluíram que os Jogos da 32ª Olimpíada de Tóquio devem ser remarcados para uma data posterior a 2020, mas o mais tardar no verão de 2021, para proteger a saúde dos atletas, todos os envolvidos nos Jogos Olímpicos e na comunidade internacional”, disse o comunicado do Comitê Olímpico Internacional.

Decisão tomada, restam ainda algumas dúvidas a serem esclarecidas. Uma delas diz respeito à disputa pelas vagas dos atletas. Tanto o COI, quanto as federações internacionais de cada modalidade ainda não se manifestaram sobre essa questão. Principalmente para saber se os competidores já classificados terão seus índices mantidos ou se todo o processo classificatório será zerado.

Ao todo, 178 atletas brasileiros já estavam garantidos nos Jogos. A previsão do Comitê Olímpico do Brasil (COB) era a de que o número de representantes do país ficasse entre 250 e 300 competidores. Apesar disso, a decisão de adiamento foi comemorada por dirigentes e atletas nacionais. “O Comitê Olímpico do Brasil está aliviado com essa informação. E eu acho que a maioria dos comitês olímpicos nacionais e, com certeza, os nossos atletas, que é com quem tínhamos a maior preocupação e cuidado”, destacou o presidente do COB, Paulo Wanderley Teixeira. “Sempre tivemos confiança de que o presidente Thomas Bach seria capaz de liderar com serenidade e segurança o Movimento Olímpico nesse momento histórico. Os atletas são o centro das preocupações do COB e do COI e, por isso, a comunidade olímpica do Brasil está bastante satisfeita com a decisão”, completou.

Bicampeão e maior medalhista olímpico da história do Brasil (dois ouros, duas pratas e um bronze), o velejador Robert Scheidt, 46 anos, comemorou o adiamento. Classificado para os Jogos, ele participará de sua sétima Olimpíada. “Considerando a saúde dos atletas e a de todos os envolvidos na organização da Olimpíada, considerando também a possibilidade de se preparar de maneira igualitária, o caminho do adiamento é o caminho correto”, afirmou.

Dono de 24 medalhas em três paralimpíadas, 14 delas de ouro, o nadador Daniel Dias, 31, também comemorou a mudança. “Fico mais tranquilo e motivado para participar destes Jogos em Tóquio”, escreveu, no Twitter. O surfista Gabriel Medina, 26, também concorda. “Acredito que foi uma decisão correta por parte do COI e dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A saúde e o bem-estar da população mundial são as maiores prioridades do momento.” O surfe fará sua estreia em olimpíadas nos Jogos de Tóquio. Agora, em 2021.

Números

O tamanho dos Jogos

  • US$ 26 bilhões é a estimativa de custos mais recente do Japão com o evento, incluindo gastos do comitê organizador e do poder público
  • US$ 5,7 bilhões é o total das receitas do COI no último ciclo olímpico (quatro anos). Cerca de 73% são referentes a direitos de transmissão (US$ 4,2 bilhões), e 18%, a contratos de patrocínios (US$ 1 bilhão)
  • US$ 3 bilhões é o valor dos contratos de patrocínio domésticos firmados para Tóquio-2020