JOGOS INESQUECíVEIS » A última "frescada" no Nordestão "Jogos Inesquecíveis" relembra título de 2014 do Sport na Copa do Nordeste, que teve como protagonistas técnico Eduardo Baptista e o atacante Neto Baiano

Filipe Assis
esportes@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 06/06/2020 03:00

“Não podemos mais enganar a torcida”. A frase dita em 29 de janeiro de 2014 pelo então técnico do Sport, Geninho, era compreensível. O time havia acabado de perder por 1 a 0 para o Guarany-CE, em Sobral, com gol sofrido aos 45 minutos do segundo tempo. Após quatro partidas na Copa do Nordeste, o Leão somava apenas dois pontos (dois empates e duas derrotas). Por isso, Geninho havia “jogado a toalha”. Pouco mais de dois meses depois, no dia 9 de abril, o mesmo Sport, com um técnico diferente, entrava em campo para disputar a final do Nordestão. E fazer história.

Geninho foi demitido no dia seguinte à derrota para o Guarany. O seu lugar foi ocupado, interinamente, pelo então preparador físico Eduardo Baptista, filho de Nelsinho Batista, que comandou o time no título da Copa do Brasil de 2008. Ao não trazer, de imediato, um técnico consagrado, parecia que a própria diretoria rubro-negra concordava com a polêmica frase de Geninho. O que ninguém imaginava é que a estratégia de apostar em alguém da casa, que nunca tinha tido uma experiência como treinador e que já havia declarado pouco antes não se sentir “preparado” ainda para assumir o cargo, daria tão certo.

Para conseguir a classificação às quartas de final do Nordestão, o Sport precisava torcer por uma combinação de resultados e fazer o que muita gente achava ser mais difícil: ganhar os dois jogos seguintes. O Sport venceu o Náutico na Arena de Pernambuco por 3 a 0 e o Botafogo-PB fora de casa por 1 a 0. A reação foi “compensada” com tropeços do Timbu e do time paraibano. Assim, mesmo que o Botafogo-PB conseguisse recuperar os quatro pontos perdidos por causa da escalação de dois jogadores irregulares, não tiraria o segundo lugar do Leão na fase de grupos (o primeiro foi o Guarany-CE).

Enfim, efetivado

A dois dias do jogo de ida das quartas de final, contra o CSA, Eduardo Baptista foi efetivado no cargo, a pedido do elenco e apoiado pela torcida. A esta altura, o time era outro. Estava mais organizado e, acima de tudo, mais confiante. Passou pelo CSA com uma vitória e uma derrota, a última naquela competição. A semifinal teria os confrontos mais difíceis, até então. Só na teoria. O Sport ganhou duas vezes do Santa Cruz e chegou à final com moral. Quase favorito. O primeiro jogo da decisão, na Ilha do Retiro, deixou o Leão com a mão na taça. Vitória por 2 a 0 sobre o Ceará e vantagem de poder até perder por um gol de diferença na volta.

Toda a história contada até aqui é fundamental para entender o contexto daquela partida no Castelão. Era um rival que foi quase perfeito durante toda a competição, com direito a goleadas de 5 a 1 sobre o Vitória nas quartas de final e 4 a 0 contra o América-RN na semifinal, contra a equipe que renasceu depois de ser dado como morta. Para onde fosse a taça, seria justo. Mas cá para nós, ela merecia vir para a Ilha do Retiro.

Aos 44 minutos do primeiro tempo, o estádio inteiro passou a gritar “eu acredito”. Era o gol de Magno Alves, colocando o Ceará à frente. Faltava um para levar a decisão para os pênaltis. Mas a agonia rubro-negra não demorou. Aos 6 minutos do segundo tempo, o meia Aílton puxou um contra ataque rubro-negro e só foi parado quando foi derrubado dentro da área pelo goleiro Luís Carlos. Era a chance do gol do título. E a chance estava nos pé de Neto Baiano.

O atacante não amarelou. Nem na cobrança, nem na comemoração. Tão logo a bola estufou a rede, ele saiu em direção à bandeira de escanteio, que virou parceira para uma “dança”. O narrador de uma rádio cearense reclamou: “Gol do Sport, Neto Baiano. E (Neto Baiano) fica frescando”, disse. Não havia tempo para uma reação. Era a dança do título. Para derrubar aquele time do Ceará, era preciso ser muito forte. Era preciso ser muito Sport.

Campanha

Primeira fase


19/1    Botafogo-PB    1 x 1    Sport
23/1    Sport              0 x 1    Náutico
26/1    Sport              0 x 0    Guarany-CE
29/1    Guarany         1 x 0    Sport
 2/2    Náutico            0 x 3    Sport
 6/2    Sport              1 x 0    Botafogo-PB

Quartas de final
16/2    Sport        2 x 0    CSA
25/2    CSA        1 x 0    Sport

Semifinal

12/3    Sport        2 x 0    Santa Cruz
19/3    Santa Cruz    1 x 2    Sport

Final

2/4    Sport        2 x 0    Ceará
9/4    Ceará        1 x 1    Sport

O goleador
O atacante Neto Baiano não foi o artilheiro da edição de 2014 da Copa do Nordeste. Com seis gols, ficou dois atrás de Magno Alves, do Ceará. Mas o centroavante foi decisivo para o Leão na reta final da competição. Ele marcou nos jogos de ida das quartas de final (contra o CSA) e da semifinal (contra o Santa Cruz), e nas duas partidas da final.

Entrevista  // Eduardo Baptista, ex-técnico do Sport

Uma lembrança

Aquela noite é mágica. Até hoje, quando fecho os olhos, tenho cada minuto daquele dia na cabeça. Desde a chegada ao Castelão. Muito tumultuada, a torcida do Ceará tentando intimidar a gente. Mas a gente olhava para a cara dos atletas e nada abalava. A gente tinha certeza de que as coisas iam acontecer naquela noite.

Um susto

O ponto marcante para a gente naquele jogo, poucas pessoas sabem, aconteceu no intervalo. Wendel, que vinha de lesão, mas naquela partida era uma peça fundamental, era o cara que estava segurando o Samuel, que era o ponto forte deles, confidenciou para mim que estava difícil voltar para o segundo tempo.

A solução

A gente tinha perdido o Danilo Barcellos (estava suspenso). Então, sem titubear, a gente chamou o Igor. Ele tomou conta do Samuel, anulamos aquele lado do Ceará. Praticamente levamos a partida até o fim sem maior esforço. E no final do jogo, sensacional. Uma explosão que foi no final é indescritível.