AD10S, MARADONA »
Uma intensa trajetória fora dos gramados
Em sua despedida do futebol, em 1997, Maradona deixou claro que seus problemas extra-campo não mudam a história que ele construiu com a bola no pé
eduardo parin especial para o diario
esportes@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 26/11/2020 03:00
O escritor Albert Camus uma vez disse que devia ao futebol tudo conhecido por ele sobre as obrigações e moral do homem. A trajetória de Diego Armando Maradona, tão absurda quanto a obra do romancista, misturou os três elementos ditos pelo argelino. Fora dos gramados, a vida de El Pibe de Oro foi marcada pelo esgotamento e obrigação de carregar o peso de sua própria personagem, a mais humana já vista no futebol.
O registro de Maradona longe das quatro linhas é do tamanho das conquistas que o tornaram santo em Buenos Aires, Nápoles e Barcelona. A devoção a Diego Maradona superou qualquer limite físico e fez surgir, em 1998, do sincretismo entre arquibancada e cristianismo, a Igreja Maradoniana.
Milhares de cientistas sociais mundo afora buscam compreender o papel fundamental da religião na vida humana. Na Igreja Maradoniana, o principal objetivo dos cultos e festejos realizados está claro entre os milhares de fiéis Maradonistas: não esquecer dos milagres que Diego realizou à frente de todos. Dos fenômenos protagonizados pelo mais humano dos deuses, como bem definiu o escritor uruguaio Eduardo Galeano, o gol que redimiu a Argentina quatro anos depois de perder cerca de 700 jovens soldados na Guerra das Malvinas foi o mais fantástico.
No dia 22 de junho de 1986, num abarrotado Estádio Azteca, o camisa 10 balançou as redes duas vezes: a primeira, driblando metade do time inglês, e, a outra, o impossível gol de mão. Diante dos inventores do futebol, a qualificação para a semifinal da Copa do Mundo do México representava a redenção dos valores nacionais dos argentinos - que sofriam, à época, com pobreza, fome e um país destruído pela ganância e corrupção dos militares que lideraram, entre 1976 e 1983, a última ditadura argentina. Levantada a taça do Mundial, Maradona dedicou a vitória à classe trabalhadora, e fez questão de se distanciar dos militares, que outrora utilizaram o esporte mais popular do mundo para propagandear as ideias do regime que por sete anos violou direitos humanos na Argentina.
Identificado com os valores políticos da esquerda, Maradona levou sua militância ao campo internacional e manteve relações com diversas lideranças progressistas latino-americanas, como Lula, Dilma, Hugo Chávez e Cristina Kirchner. Em seu corpo, tem tatuado as faces de Fidel Castro e Che Guevara, líderes da Revolução Cubana. Até a morte de Fidel, em 2016, Diego tinha uma relação próxima com o ex-primeiro ministro cubano - após passar por reabilitação contra dependência química, em Cuba, o craque afirmou que Castro, morto há quatro anos, junto a Deus, era a razão dele estar vivo.
Em 2000, Maradona iniciou o tratamento contra as drogas, em Cuba. Após sofrer overdose de cocaína em Punta del Este, cidade balneária do Uruguai, ele foi internado em uma clínica particular. Com um quadro de arritmia ventricular e hipertensão arterial, Diego pela primeira vez viu a morte próxima e decidiu se mudar para Cuba e usufruir da privacidade e medicina que a ilha caribenha disponibilizava.
Por sinal, quis o destino que o argentino falecesse na exata mesma data que o seu ídolo cubano.
O registro de Maradona longe das quatro linhas é do tamanho das conquistas que o tornaram santo em Buenos Aires, Nápoles e Barcelona. A devoção a Diego Maradona superou qualquer limite físico e fez surgir, em 1998, do sincretismo entre arquibancada e cristianismo, a Igreja Maradoniana.
Milhares de cientistas sociais mundo afora buscam compreender o papel fundamental da religião na vida humana. Na Igreja Maradoniana, o principal objetivo dos cultos e festejos realizados está claro entre os milhares de fiéis Maradonistas: não esquecer dos milagres que Diego realizou à frente de todos. Dos fenômenos protagonizados pelo mais humano dos deuses, como bem definiu o escritor uruguaio Eduardo Galeano, o gol que redimiu a Argentina quatro anos depois de perder cerca de 700 jovens soldados na Guerra das Malvinas foi o mais fantástico.
No dia 22 de junho de 1986, num abarrotado Estádio Azteca, o camisa 10 balançou as redes duas vezes: a primeira, driblando metade do time inglês, e, a outra, o impossível gol de mão. Diante dos inventores do futebol, a qualificação para a semifinal da Copa do Mundo do México representava a redenção dos valores nacionais dos argentinos - que sofriam, à época, com pobreza, fome e um país destruído pela ganância e corrupção dos militares que lideraram, entre 1976 e 1983, a última ditadura argentina. Levantada a taça do Mundial, Maradona dedicou a vitória à classe trabalhadora, e fez questão de se distanciar dos militares, que outrora utilizaram o esporte mais popular do mundo para propagandear as ideias do regime que por sete anos violou direitos humanos na Argentina.
Identificado com os valores políticos da esquerda, Maradona levou sua militância ao campo internacional e manteve relações com diversas lideranças progressistas latino-americanas, como Lula, Dilma, Hugo Chávez e Cristina Kirchner. Em seu corpo, tem tatuado as faces de Fidel Castro e Che Guevara, líderes da Revolução Cubana. Até a morte de Fidel, em 2016, Diego tinha uma relação próxima com o ex-primeiro ministro cubano - após passar por reabilitação contra dependência química, em Cuba, o craque afirmou que Castro, morto há quatro anos, junto a Deus, era a razão dele estar vivo.
Em 2000, Maradona iniciou o tratamento contra as drogas, em Cuba. Após sofrer overdose de cocaína em Punta del Este, cidade balneária do Uruguai, ele foi internado em uma clínica particular. Com um quadro de arritmia ventricular e hipertensão arterial, Diego pela primeira vez viu a morte próxima e decidiu se mudar para Cuba e usufruir da privacidade e medicina que a ilha caribenha disponibilizava.
Por sinal, quis o destino que o argentino falecesse na exata mesma data que o seu ídolo cubano.