Areia Branca: dez anos de uma tragédia Construído em 1978, edifício desabou em 14 de outubro de 2004, matando quatro pessoas. Até hoje, nada foi construído no local da tragédia

Wagner Oliveira
wagneroliveira.pe@dabr.com.br

Publicação: 13/10/2014 03:00

Terreno onde existia o prédio, localizado em Piedade, área nobre de Jaboatão dos Guararapes, está abandonado e tomado pelo mato (RAPHA OLIVEIRA/ESP.DP/D.A PRESS)
Terreno onde existia o prédio, localizado em Piedade, área nobre de Jaboatão dos Guararapes, está abandonado e tomado pelo mato

O terreno vazio no coração do endereço mais nobre de Jaboatão dos Guararapes é o que restou de uma tragédia ocorrida há uma década. Amanhã, o desabamento do Edifício Areia Branca completa dez anos. O prédio ruiu na noite de 14 de outubro de 2004 na Avenida Bernardo Vieira de Melo, matando quatro pessoas e ferindo outras duas. O número de mortes seria maior caso os moradores não tivessem desocupado o imóvel de 12 andares, após ouvirem estalos no dia anterior.

Depois de mais de cinco anos brigando na Justiça, os ex-moradores receberam os pagamentos dos seguros obrigatórios para tentarem refazer suas vidas. No entanto, a saudade do lugar que escolheram para morar com a família continua até hoje.
Construído em 1978 pela JB Construções e Empreendimentos Imobiliários, o Areia Branca abrigava 24 famílias. As pessoas que morreram no desabamento não eram moradores do prédio. Diferentemente dos edifícios-caixão, que somam 4.770 unidades com risco entre leve e muito alto de desabamento na Região Metropolitana do Recife, o Areia Branca era do tipo pilotis.

 Como havia apresentado problemas estruturais um dia antes da queda, equipes da Coordenaria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) e da Comissão de Defesa Civil de Jaboatão chegaram a vistoriar o prédio e descartar a possibilidade de desabamento. No entanto, por volta das 20h30, o edifício ruiu.

“Cheguei no Areia Branca com 11 anos de idade no dia 9 de julho de 1979. Morei lá por muitos anos até meus pais resolveram se mudar para Boa Viagem. Depois que eu casei, decidi voltar para o prédio. Meus dois filhos nasceram lá e o mais novo estava com sete meses quando o prédio desabou”, conta a arquiteta Ana Lúcia Peregrino Moreira Bezerra de Mello, 47 anos, viúva do então síndico do edifício, Celso Bezerra de Mello. “O Areia Branca representava muito para mim. Foi o apartamento que eu escolhi para morar quando fizemos as divisões dos bens dos meus pais.”

Depois de anos de espera e disputa judicial, o ex-moradores conseguiram receber o valor do seguro obrigatório. “Passamos anos brigando por essa reparação e quando a decisão final saiu recebemos um valor de aproximadamente R$ 250 mil, o que não deu para comprar outro imóvel compatível”, lembra a arquiteta, que conseguiu recuperar entre os escombros do Areia Branca as fotografias da época em que chegou ao prédio e todos os registros feitos ao longo dos anos em que ela e a família viveram no edifício.

Mortos no desabamento

Antônio Félix dos Santos, 38 anos, porteiro do Areia Branca. Seu corpo foi o primeiro a ser resgatado, um dia após o desabamento. Trabalhou durante 15 anos no prédio. Era casado e tinha dois filhos.


Alcebíades Cunha Lins Júnior, 32 anos. Era soldado do Corpo de Bombeiros de Pernambuco. Trabalhava fazendo bico de segurança no edifício Areia Branca. Era casado e tinha uma filha.


Cícero Júnior de Lima Silva, 21 anos, ajudante de pedreiro da Jatobeton. Seu pai, o pedreiro Cícero Tenório da Silva, sobreviveu ao desabamento. Seu corpo foi reconhecido pelo pai cinco dias após a queda.


Ivanildo Martins dos Santos, 21 anos, ajudante de pedreiro, empregado da empresa Jatobeton. Conhecido como Pé de Pano, havia sido contratado há três meses. Foi o último a ter o corpo localizado.