A história passada que pode ser esquecida

Publicação: 27/08/2016 09:00

A difusão das lendas acaba modificando-se com o tempo e novas histórias surgem, por vezes, sobrepostas pelas mudanças. “As histórias eram passadas em conversas de famílias, entre grupos de amigos. Atualmente, não há mais esse hábito e as memórias compartilhadas são mais recentes. Muitas histórias ficarão restritas à cultura livresca”, prevê o doutor em história da UFPE Severino Vicente.

Entre as correntes que podem ser perdidas na história estariam as lendas indígenas. “Pouco se fala do Boitatá e da Comadre Fulozinha, por exemplo”, pontua. “Mas se você parar para pensar: o homem destruiu as matas e animais, qual o sentido da Comadre Fulozinha, se ela não tem mais mata para proteger?”, lamenta o professor.

Com o intuito de tentar reavivar essas lendas no imaginário infanto-juvenil, o poeta Walter Ramos e o artista plástico Daaniel Araújo criaram a obra independente O Livro ilustrado das assombrações de Pernambuco, em que lendas pernambucanas são retratadas com características e “locais de atuação”.

“É necessário ressignificar para manter a história viva para as próximas gerações”, afirma Walter Ramos. “Sempre me interessei muito por histórias de mistério. Pensei que teríamos que “importar” histórias, mas, na pesquisa, conseguimos fazer o material com lendas pernambucanas voltado principalmente às crianças”, completa Daaniel Araújo.

Mesmo sem a difusão de outros tempos, as lendas persistem em algumas localidades, opina o pesquisador César Mendonça. “Uma amiga minha era professora na Mata Norte e os alunos diziam acreditar na Comadre Fulozinha, alguns juravam de pés juntos já terem visto”. Enquanto houver imaginação, as lendas ainda terão vida.