Lendas longe de serem inocentes

Publicação: 27/08/2016 09:00

As lendas surgem com um objetivo a ser alcançado. “O bicho-papão, em sua origem, funcionava para controlar e cercear as crianças dentro de casa. Hoje em dia perdeu um pouco a função”, brinca o pesquisador da Fundaj César Mendonça, referindo-se à inserção das crianças na tecnologia e redes sociais. Com o mesmo intuito, Mendonça cita a lenda da Loira do Banheiro, protagonista de histórias e medos em diversos colégios. “Para evitar que os alunos fossem ao banheiro sem necessidade, os professores criaram essa história, que acaba mexendo no imaginário dos jovens”, aponta.

O mesmo princípio de controle aplica-se à lenda da mula-sem-cabeça, mas nesse caso, focado na religião. “As moças que tivessem relação sexual com padres virariam mulas sem cabeça. A lenda foi criada numa época em que a Igreja começou a cobrar com mais força o celibato no Brasil”, explica o historiador da UFPE Severino Vicente. A dita transformação ocorreria na noite de quinta para sexta-feira.

Já houve o uso das lendas também para fins bem práticos. Um exemplo era o consumo de manga e banana durante prática de exercícios. “Isso foi difundido nos engenhos para que os trabalhadores não comessem enquanto trabalhavam e rendessem menos”, completa o professor.