Doces recordações pernambucanas
Fabricados no estado, refrigerantes como Fratelli Vita, Crush e Cliper marcaram diferentes gerações
Publicação: 11/02/2017 03:00
![]() | |
Ângela relembra com saudade a laranjada Cliper, anunciada em painel no Colégio Vera Cruz |
Na Rádio Clube, o jingle dizia: “Seu garçom, faça-me um favor: traga um refrigerante pra servir o meu amor. Às ordens, cavalheiro. O que deseja a senhorita? Eu quero um guaraná Fratelli Vita!”. Quem viveu em Pernambuco entre os anos 1950 e 1980 não se esquece do sabor marcante dos refrigerantes fabricados no estado naquele tempo, em que as laranjadas Cliper e Crush também fizeram sucesso.
A Fratelli, que produziu o mais famoso desses produtos, foi fundada em Salvador, em 1902, pelos irmãos italianos Giuseppe e Francesco Vitta. O povo pernambucano ainda nem era acostumado aos refrigerantes quando a marca chegou ao Recife, em 1913, primeiro com uma fábrica na Rua do Imperador, no Centro, e depois na Rua da Soledade, Boa Vista. “A Soledade era um beco e precisou ser alargada para os caminhões passarem”, lembra o escritor Gustavo Arruda, autor dos livros A história da Fratelli Vita no Recife e No tempo da Fratelli Vita. Nas obras, ele conta como as histórias do Recife e do refrigerante se misturaram. “A marca participava de campeonatos esportivos, festas estudantis, mandava produtos para a imprensa conhecer”, explica.
Em 1927, quando o bimotor Jahú chegou ao Recife após cruzar o Atlântico, os aviadores conheceram a fábrica. Em 1930, enquanto o Graf Zeppelin atracava, panfletos eram distribuídos a quem aguardava o dirigível. Na Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos montaram uma base avançada no Recife, a Fratelli ganhou a concorrência da Coca-Cola, que estabeleceu fábrica na capital pernambucana em 1941, e precisou intensificar a propaganda, espalhada até pelo Capibaribe e as cabeceiras das pontes. “Fratelli Vita era o refrigerante mais bebido do Norte-Nordeste”, lembra o historiador José Luiz da Motta Menezes, amigo dos irmãos italianos. A marca foi vendida à Brahma em 1972 e encerrada quatro anos depois.
Laranja
A professora de português do Colégio Vera Cruz, Ângela Quintas, guarda na memória o sabor da laranjada Cliper. “A gente tomava o refrigerante com pastel ou pão de queijo feito pelas freiras”, conta a ex-aluna da escola, e docente há quatro décadas. Fora de produção há 35 anos, a Cliper é lembrada por um preservado painel publicitário na cantina do Vera Cruz, que traz alunas jogando tênis e tomando a laranjada. “Todo ex-aluno pergunta logo se o painel ainda existe”, comenta. Maior concorrente da Fratelli, a laranjada era produto da Fábrica União, que ficava na Avenida Cruz Cabugá.
Outra laranjada pernambucana que marcou época foi a Crush. A bebida foi criada por Clayton J. Power, em 1911, nos Estados Unidos. No Brasil, chegou a ser franqueada pela mutinacional Cadbury Schweppes, mas antes disso, nos anos 1920, foi comercializada no Nordeste pela Fratelli Vita. A marca teve fábrica própria instalada na Rua da Aurora, em 1950. Um de seus funcionários foi o cantor Djavan.
Em 2011, a Coca-Cola adquiriu a licença para explorar a marca nos sabores caju e guaraná, sendo comercializada ainda hoje nos estados do Ceará, Piauí, Bahia e Rio Grande do Norte. Com sabor azedinho característico, a Crush também segue presente no seu país de origem, o Canadá e em outros países da América Latina, nos sabores chocolate, morango e abacaxi.
História
1783
Johann Jacob Schweppe funda sua companhia de água gaseificada na Suíça e depois a leva à Inglaterra
1809
Primeiras experiências com água gaseificada misturada a sabores
1840
A essa altura, havia cerca de 50 marcas de refrigerantes no mundo
1887
Fundada na Geórgia (EUA), a Coca-Cola começa a usar fórmula semelhante à atual
1902
Fratelli Vita inicia operações
1941
Coca-Cola começa a produzir no Brasil, através da fábrica no Recife