Hipnose para melhorar desempenho dos feras Estudantes utilizam técnica para aumentar nível de concentração

Anamaria Nascimento
anamaria.nascimento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 15/04/2017 09:00

Depois de quatro anos tentando passar no vestibular de medicina, o estudante Renato Maciel, 23 anos, percebeu que o que o impedia de ver o nome no listão não era a falta de dedicação aos livros, mas o excesso de nervosismo. Antes de entrar no quinto ano buscando uma vaga no ensino superior, decidiu aliar os estudos à hipnose. Depois das sessões de hipnoterapia, conseguiu a esperada aprovação no curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um dos mais concorridos do país.

Buscando maior concentração e menos ansiedade para participar de processos seletivos, estudantes pernambucanos têm feito como Renato e recorrido às sessões de hipnoterapia para se darem bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e em concursos públicos.

De acordo com a psicanalista e hipnoterapeuta Cláudia do Vale, que atende em um consultório em Jaboatão dos Guararapes, além de tratar problemas relacionados a fobias e tabagismo, a hipnose clínica serve como tratamento para bloqueios de aprendizagem.

“Muitas vezes o estudante lê, estuda, tem todo o conteúdo em mente, mas, na hora da prova, dá um ‘branco’. Não se trata de um problema de memória. Na hipnoterapia trabalhamos essa questão, dando comandos e ajudando a acessar os conteúdos que estão na mente”, explica.

Era o que ocorria com Renato. Ele estudava, mas não conseguia a aprovação em medicina. “Eu estudava muito, tirava boas notas nos simulados, os professores diziam que eu ia passar e não tinha êxito. Depois de procurar a hipnoterapia, que foi uma grande aliada nesse processo, minha capacidade de cognitiva e de concentração está muito maior”, contou o universitário, que cursa o quinto período de medicina na UFPE. “É importante lembrar que a hipnoterapia não é milagre. O paciente precisa estudar para conseguir a aprovação. O que fazemos é ajudá-lo na absorção do conteúdo”, pondera Cláudia.

Segundo a terapeuta, com a hipnose é possível também tratar alguns bloqueios de aprendizagem que impedem os estudantes de aprenderem novas línguas. “Falar inglês e outros idiomas para muitas pessoas é um tormento. Estudam, estudam, mas nunca conseguem falar fluentemente. O problema é que há uma espécie de bloqueio de ordem emocional, fazendo com que a língua mãe (o português) sempre esteja à frente de suas conversações”, afirma.

Fases da hipnose:

1- Relaxamento

Descanso muscular induzido por ações e estímulos do hipnotizador, que muda o ritmo respiratório do paciente.

2 - Transe leve
Estado de menor resistência. É quando o paciente fica mais suscetível aos comandos do hipnotizador.

3 - Transe moderado
Estágio importante para o tratamento de fobias. Paciente pode trazer memórias ao estado consciente.

4 - Transe profundo
Entre 5% e 10% da população conseguem alcançar o estágio. Paciente pode ter alucinações positivas ou negativas.

Entenda
  • Ainda há muitos profissionais que usam a hipnose sem ter formação nas áreas compatíveis com a técnica
  • É importante procurar se o hipnoterapeuta está inscrito no conselho da classe profissional e se ele ou ela frequentou cursos reconhecidos
  • Consulte o currículo do especialista e procure referências com outros pacientes
  • Busque indicações no link “Encontre um profissional” do site da Sociedade Brasileira de Hipnose (www.sbhipnose.org)
  • Uma pessoa sem formação pode gerar desequilíbrio ao paciente, agravando o quadro que a pessoa já apresenta e levando até a um surto psicótico
Prática é autorizada por órgãos

A Sociedade Brasileira de Hipnose esclarece que a hipnose é uma técnica autorizada e reconhecida por órgãos como os conselhos federais de psicologia e medicina. Por alguns anos, o procedimento permaneceu em descrédito por causa da hipnose de palco. O mito ainda faz parte da rotina dos profissionais.

“A hipnoterapia é uma técnica milenar, mas as pessoas passaram a perder a confiança por causa da hipnose de palco, feita em apresentações de programas de TV. A hipnose ficou com fama de charlatanismo e golpe, mas está voltando com bons profissionais na área clínica”, diz Cláudia do Vale.

A hipnose é regulamentada pela resolução 013/00, de 2000, do Conselho Federal de Psicologia, que permite o uso como recurso auxiliar e técnico de trabalho do psicólogo. Não existe no Brasil um curso superior para hipnólogos, ao contrário de Estados Unidos e Austrália, onde há programas de pós-graduação. Na França, a hipnose é oferecida como forma de tratamento no sistema público de saúde.