DIARIO NOS MUNICíPIOS - IPOJUCA » Todos os caminhos do mangue de Maracaípe Jangadeiros dedicam sua vida a levar visitantes pelos manguezais e proteger seu ecossistema. Semanalmente, um deles se encarrega de retirar o lixo do local

Publicação: 19/06/2018 03:00

O jangadeiro José Vanderley da Silva Marques conhece os caminhos do mangue. Em 38 anos de vida, dedicou 20 a singrar as águas do Pontal de Maracaípe. A intimidade com as águas que separam as praias de Maracaípe e de Serrambi, ambas em Ipojuca, reforça nele a certeza de pertencimento. “Sei bem o que é este lugar”, afirma. José Vanderley tira o sustento da família dos passeios turísticos pelo manguezal. Sem o mangue, a sobrevivência seria mais difícil. Um depende do outro.

Daí, conhecer e cuidar da vegetação dos manguezais. O conhecimento está na ponta da língua. À medida que navega nas águas do pontal, o jangadeiro, descreve um a um os tipos de mangue. Primeiro, o vermelho, cujo nome em latim é citado por José Vanderley. “Sabe qual é? Rhizophora mangle”, fala. Complementa: o vermelho é a espécie que cresce nas áreas mais inundadas. As explicações, que facilitam entender a importância do lugar paradisíaco, incorporaram-se dados sobre os mangues branco e preto.

As árvores merecem explicações generosas. O solo, idem. Para os marinheiros de primeira viagem pelo pontal, vindos de outros estados e países, José Vanderley frisa o elo entre a fauna e a flora. Com a maré baixa, ele aponta o emaranhado de raízes, o mar de caranguejos e chiés que inundam o chão pastoso e as ostras agarradas aos caules do mangue. É como se estivesse relatando a dependência dos jangadeiros do lugar. Dos passeios no mangue dependem 40 homens, organizados em torno da Associação dos Jangadeiros do Pontal de Maracaípe, presidida por José Vanderley.

A organização dos jangadeiros diz o quanto o pontal é importante para eles. Para melhorar a renda familiar, um grupo de sete pessoas, formado principalmente por irmãos e primos, começou a explorar turisticamente o pontal. Com o sucesso do empreendimento, ocorreram os milagres das jangadas. Ao grupo inicial se acresceu mais 10 embarcações. Depois, mais 13. Agora somam quatro dezenas. “Todos com os devidos registros legais”, explica o presidente. As exigências da legislação incluem documentos junto a instituições dos governos municipal, estadual e federal.

Só a lei não bastou para despertar nos jangadeiros o sentido de preservação. Inseridos em uma das maiores áreas de proteção ambiental do estado, a APA Estuarina dos Rios Sirinhaém e Maracaípe, com 3,3 milhões de hectares, precisaram compreender a importância do lugar. Tiveram aulas sobre o assunto. Perceberam que a exploração desenfreada comprometeria o ganha-pão. “Ou ficamos atentos ao que acontece aqui ou seremos prejudicados”, afirma José Vanderley. Por atentos, entenda-se observar o descarte de lixo e o despejo de óleo por embarcações.

O esforço para manter o mangue de Maracaípe ao menos livre do lixo conta com as mãos dos apaixonados pelo lugar, a exemplo de Jéssica Fernando Caetano, 25, e dos jangadeiros. O pontal é para onde ela costuma levar os filhos, Emanuel, 5, e Bernardo, 1. Todo o lixo produzido pela família, Jéssica recolhe. Como nem todos agem assim, os jangadeiros instituíram um cronograma. A cada semana, um deles recolhe a sujeira. “É o preço para se manter um paraíso”, resumiu o jangadeiro Reginaldo Laurentino. Faz sentido.