DIARIO NOS BAIRROS » Árvores deram origem ao nome do bairro Inventário realizado há quatro anos identificou aproximadamente 800 árvores nas ruas do Espinheiro, com potencial para receber mais 490 plantas

Publicação: 10/08/2018 03:00

São apenas 32 ruas, espremidas entre duas das principais avenidas da cidade. O Espinheiro é como se fosse a porta de entrada de quem vem do Centro para a Zona Norte do Recife. É também um local cheio de peculiaridades, a começar da arborização – que deu nome e fama ao bairro. O bairro tem quase 800 árvores plantadas, uma média de 24 por rua. É uma das áreas mais verdes da capital, consequentemente uma das mais agradáveis para a caminhada. Por outro lado, carece de espaços públicos de lazer. Uma contradição do planejamento urbano recifense.

O bairro do Espinheiro teve origem em meados de 1800 em um loteamento de sítios, conhecido como Matinha, justamente pela densidade da vegetação. No século passado, caiu nas graças da nobreza da cidade, passando a ser local de moradia de comerciantes portugueses e usineiros. Com o início do processo de verticalização, foi um dos mais afetados pelo levante imobiliário. Por isso, as árvores plantadas no bairro são resistência ao processo de crescimento da cidade.

Para a engenheira aposentada Juliana Maria Oliveira, 74 anos, morar há 40 anos em um bairro tão verde é um privilégio. “Antigamente, costumava andar muito por aqui. Era muito agradável. O Espinheiro, ainda por cima, tem uma ótima infraestrutura. Tem farmácia, supermercado, restaurantes”, comentou. O administrador Amom Santos, 31, concorda, mas faz uma ressalva. “Você consegue fazer tudo a pé. Até para o cinema, se eu quiser, consigo ir andando. É um bairro muito completo, porém, falta acessibilidade nas calçadas para todo mundo”, reclamou.

É que qualidade nem sempre quer dizer quantidade. O Espinheiro sofre com a falta de planejamento da arborização urbana. Um inventário realizado em 2015 pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nas duas ruas mais arborizadas do bairro, mostrou que 71% das espécies afetam de alguma forma a estrutura da calçada. O levantamento mostrou que em 58% dos casos o problema foi de afloramento do passeio. Dentre os oitizeiros, espécie mais plantada na área, 65% dos existentes nas ruas do Espinheiro e da Hora causavam esse dano.

Basta percorrer as ruas do Espinheiro e da Hora, cerca de quatro anos após a publicação do inventário, para ver que a situação permanece. O que se transforma em risco para dois entre cada 10 moradores do bairro, já dentro da faixa etária idosa. É o que acontece com Juliana Oliveira. “As calçadas ficam estreitas, por causa das raízes, e fica ruim para passar. Uma vez, estava vindo para a igreja de manhã cedo, tropecei numa raiz e caí”, conta ela, que hoje evita caminhar pelo bairro como costumava fazer.

De acordo com o Manual de Arborização Urbana do Recife, a arborização de passeios em vias públicas deve considerar o livre trânsito dos pedestres, a própria largura da calçada e o espaçamento entre as árvores. Cabe à Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) executar as ações necessárias para manter a sanidade, o equilíbrio e o desenvolvimento da vegetação. O órgão afirmou que realiza ações de manutenção preventiva no bairro ao longo do ano. Neste sábado, haverá uma nova operação na Rua do Espinheiro, no trecho entre a Rua Amélia e a Rua Quarenta e Oito, das 8h às 17h.

Perfil do Espinheiro
  • 73 hectares
  • 32 ruas
  • 10,4 mil moradores
  • 3,6 mil domicílios
Perfil dos moradores
  • 43% de homens
  • 57% de mulheres
  • 52% têm entre 25 e 59 anos
  • 20% têm mais 60 anos ou mais
  • 98% são alfabetizados
  • 70% da população é branca
  • R$ 7,2 mil é o rendimento nominal médio mensal dos domicílios
Espécies arbóreas mais plantadas no bairro
  1. Licania tomentosa (Benth.) Fritsch – Oitizeiro
  2. Senna siamea (Lam) H. S. Irwin & Barneby – Acácia Amarela
  3. Caesalpinia peltophoroides Benth.  - Sibipiruna
Ex-moradores

Capiba
Músico e compositor de frevo
Onde morou: Rua Barão de Itamaracá

Mário Melo
Advogado, jornalista e historiador
Onde morou: Esquina da Rua da Hora com a Santo Elias

Joaquim Cardozo
Poeta, professor e engenheiro
Onde morou: Esquina da Rua da Hora com a Barão de Itamaracá

Antônio Maria
Cronista, comentarista e compositor
Onde morou: Rua Amapá