Promotor diz que recebia bolo de rolo Acusado de corrupção e afastado da Vara de Execuções Penais, Marcellus Ugiette disse solicitar a transferência de presos em casos de ameaça e agressões

Publicação: 10/08/2018 03:00

Pela primeira vez desde que foi acusado de corrupção, o promotor Marcellus Ugiette falou sobre o caso e negou ligação com os crimes pelos quais responde na Operação Ponto Cego, da Polícia Civil. Em coletiva de imprensa na manhã de ontem, ele enfatizou estar tranquilo em relação às investigações, por “ter certeza quanto à inocência”. Classificou ainda como precipitadas as conclusões da polícia. O advogado disse que vai tentar marcar para hoje o depoimento do promotor no Grupo de Atuação Especial da Execução Penal do Ministério Público de Pernambuco (Gaep/MPPE). Já o MPPE não confirmou a ouvida ou comentou as investigações, que seguem em sigilo.

Visivelmente abatido, Ugiette recebeu a imprensa em uma sala de reunião de um empresarial no Pina. “Nunca, em 33 anos de profissão no Ministério Público de Pernambuco, me envolvi com qualquer organização criminosa. Já poderia ter me aposentado em 2015, mas continuo atendendo centenas de familiares de presos, advogados e pessoas que precisem falar comigo. Não sou colaborador nem adepto de qualquer organização criminosa”, ressaltou o promotor, que foi afastado do cargo por suspeita de facilitar transferência de presos.  

O advogado Emerson Leônidas, que defende Ugiette, disse que não há provas consistentes contra o cliente e pediu que, se a Polícia Civil tiver alguma interceptação de conversa telefônica comprometendo a idoneidade do promotor, que apresente logo. “Queremos que o caso saia da especulação e vá para o concreto e esse pesadelo acabe”, enfatizou. Marcellus Ugiette negou receber qualquer quantia financeira para facilitar a transferência de detentos no sistema penitenciário de Pernambuco. No entanto, admitiu que, vez por outra, familiares e advogados lhe entregavam na própria vara, bolos de rolo, canetas e canecas do seu time, o Santa Cruz, mas que isso, não configura corrupção. “Corrupção é uma via de duas mãos. Nunca prometi nada relacionado aos presentes. O que recebi, por gentileza, dividia com a equipe”, garantiu.

Quanto ao fato de a Polícia Civil afirmar que ele é citado como “anjo” pela quadrilha, justamente por favorecer advogados e detentos, o promotor alegou que várias pessoas também o chamam assim, inclusive profissionais da imprensa e colegas de trabalho. “Prefiro ser chamado de anjo do que de diabo. Se forem no meu WhatApp, vão ver que muitos me chamam assim. E isso também não é indício de crime”, argumentou.

Ugiette disse ainda que, como parte do seu trabalho à frente da Vara de Execuções Penais, solicitava a transferência de presos apenas em casos de ameaça ou agressões consumadas. Afirmou ainda que não indicava a unidade ou a cela para onde o detento deveria ir. “É papel do promotor ser corregedor de presídio, de atuar na defesa dos direitos humanos. Eu fiz e continuaria fazendo ofícios, caso identificasse que aquela pessoa corria algum risco (na unidade onde estava), solicitando a transferência, mas não cabia a mim organizar celas”, pontuou.

Procurada pelo Diario, a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informou que, com base no Código Penitenciário de Pernambuco, a remoção da pessoa privada de liberdade pode ocorrer por ordem judicial ou, em caráter excepcional, por determinação da própria Seres. “As transferências são baseadas em circunstâncias descritas no documento como progressão e regressão de regime, relacionadas à saúde e para garantir a vida e a integridade física da PPL. A Seres esclarece que a investigação segue sob sigilo por isso não há nada a declarar sobre o caso”, respondeu.  

O promotor denunciou ainda que a polícia agiu com truculência quando fez a abordagem em sua residência, na sexta-feira da semana passada, para cumprir o mandado de busca e apreensão. “Eles não precisavam ter tratado minha família daquele jeito, mesmo que todos fossem bandidos. Órgãos investigadores não deveriam agir assim com ninguém”, comentou, lembrando que os policiais chegaram colocando a mão no olho mágico da porta da casa. O irmão dele foi pegar a chave do apartamento para abrir e quando chegou já encontrou a porta arrombada. “Meus três netos estavam dentro de casa”, contou.chorando. No momento, estavam na residência o promotor, o irmão dele, esposa, dois filhos e três netos.  

A assessoria de comunicação da Polícia Civil informou que o mandado de busca foi cumprido pelo próprio MPPE e que a polícia somente deu apoio necessário. O órgão informou ainda que o inquérito não está mais com a polícia. “As investigações foram repassadas para o MPPE quando foram encontrados indícios pois o promotor tem foro privilegiado.