Quando o sol começa a baixar, eles chegam com os tutores. O shih tzu Spike é o mais retraído e prefere ficar ao lado da dona. A golden retriever Malu só quer saber de brincar na areia e correr entre o circuito de madeira. O dachshund long hair Mike faz companhia e se diverte com ela. Enquanto os tutores conversam, eles correm de um lado para o outro. Param algumas vezes, com ar de cansados, e depois reiniciam. Na Praça Souto Filho, no bairro da Jaqueira, ao lado do parque que dá nome ao bairro, o protagonismo é todo dos animais.

A praça sempre foi conhecida como local frequentado pelos cachorros da região. Há cerca de um ano, desde que ganhou o ParCão, essa fama foi oficializada. Hoje, um terço do espaço - 1,5 mil m2 - é exclusivo dos cães, funcionando das 7h às 19h. Pela história pregressa, a Souto Filho ganhou o maior parque para cachorros da cidade, quase três vezes maior do que o do Parque Santana e duas vezes o do Parque Dona Lindu. É, visivelmente, a área da praça com maior uso pelos frequentadores.

A estudante Maria Clara Cândido, 21 anos, costuma levar Mike três a quatro vezes por semana para a Praça dos Cachorros, como o espaço também é conhecido. “É bom para a socialização dele, para o gasto de energia. Ele chega, brinca bastante e depois volta para casa cansado. A gente percebe”, contou. De acordo com o diretor técnico da clínica Plantão Veterinário, que adota o espaço, Rogério de Holanda, os proprietários precisam pensar mais na socialização dos cães. “Eles naturalmente viviam em matilhas, então é uma forma de voltar às origens e se sentir no ambiente canino”, diz. É por isso que o estudante Mateus Magalhães, 23, faz questão de cruzar a cidade para visitar a praça com Malu. “Moro perto da UFPE e venho porque acabo aproveitando para fazer alguma atividade próxima e porque é bom para ela, mas seria melhor se houvesse também em outras partes da cidade.”

O Recife tem quatro parques semelhantes, sendo dois na Zona Sul (Centro Santos Dumont e Dona Lindu) e dois na Zona Norte (Praça Souto Filho e Parque Santana), além da Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata. Segundo a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer da capital, há estudos em curso para levar o projeto ao Parque da Macaxeira, 2º Jardim de Boa Viagem, Lagoa do Araçá e no Parque 13 de maio.

O publicitário Raul Buarque, 30, destaca o papel que o ParCão cumpre na vida do seu cachorro, o dachshund Hulk, mas também diz que o espaço precisa de melhorias. “Falta um bebedouro para cães, e podas de árvores para evitar que frutas caiam neles. A drenagem é precária e poderiam reforçar a tela de proteção, pois já vi cachorros fugindo”, disse.

Há dois meses, cinco cachorros chegaram a ser atingidos por uma descarga elétrica em postes do local. A vira-lata Jolie foi uma das vítimas. “Outra cadela se aproximou e levou um choque. Eu e a tutora dela fomos ver, pois pensávamos que era uma picada de inseto. Foi quando Jolei também levou o choque”, contou a professora Márcia Vasconcelos, 56.

Segundo Rogério de Holanda, o Plantão Veterinário tem responsabilidade pela limpeza do ParCão, a colocação de sacos para dejetos nos totens e dedetização. Todos os dias, há um funcionário no espaço. Sobre a manutenção, a Emlurb enviou uma equipe de iluminação para verificar a denúncia de vazamento de corrente e eliminar risco de choque. A Praça Souto Filho passou por requalificação e foi entregue em agosto do ano passado.

Mais do que um espaço de socialização entre animais, a Praça Souto Filho é um local de encontro de vizinhos. Há quem puxe assunto com os outros enquanto espera a brincadeira dos bichos. Outros frequentam o ParCão mesmo sem ter animais de estimação, procurando sair da solidão de casa. Em menos de um ano de existência, o local já rendeu até um grupo no WhatsApp, onde os frequentadores trocam informações sobre os cuidados com o espaço e promovem projetos de adoção de cachorros de rua.

O grupo tem cerca de 40 pessoas e é formado pelos frequentadores mais assíduos. “Tem veterinários, moradores. Trocamos muitas informações sobre os cachorros e também realizamos algumas ações, como uma campanha ‘publicitária’ para tentar adotar dois animais que estavam sempre por aqui”, explicou o publicitário Raul Buarque. Segundo ele, o contato via aplicativo é uma forma também de monitorar coletivamente o uso do espaço. Para a professora Márcia Vasconcelos, 56, a socialização com os outros tutores de animais é uma das melhores experiências de ir para a Souto Filho. “Para a gente que tem bichos de estimação, é como se estivéssemos na praça esperando nossas crianças brincarem. Enquanto isso, nos distraímos. Tem gente que vem como se fosse uma terapia, só para ver os cachorros”, explicou.

Entenda

12 regras da boa convivência no ParCão

1. Abrir e fechar os portões de proteção um de cada vez
2. Não entrar com alimentos para animais e/ou pessoas
3. Evitar brincadeiras que estimulem disputa territorial
4. Não comercializar animais
5. Proteger as árvores, mudas e jardins
6. Apresentar carteira de vacinação e vermifugação
7. Recolher e descartar adequadamente os dejetos dos cachorros
8. Não levar cadelas no cio
9. Manter a responsabilidade sobre qualquer ato do cão
10. Não deixar os animais sozinhos no local
11. Colocar coleiras ou guia curta em cães de médio e grande porte, não sociáveis
12. Respeitar regras dos órgãos reguladores na realização de eventos no local

Em caso de descumprimento, o frequentador poderá ser obrigado a se retirar do ParCão com o seu animal

Outros “parcães”

Parque Santana
Tamanho: 550 m2
Horario: 5h às 23h

Santos Dumont
Tamanho: 418m2
Horário: 5h às 20h

Parque Dona Lindu
Tamanho: 845 m2
Horário: 7h às 19h

Arena de Pernambuco
Tamanho: 500 m2
Funcionamento: livre

Fonte: Prefeitura do Recife