Casa Amarela, um bairro de morro e área plana Até a década de 198O, o mapa da localidade incluía o Alto José do Pinho e o Morro da Conceição

Publicação: 14/09/2018 03:00

Geni Gomes, 62 anos, é dona de casa e mora no Alto Santa Isabel, considerado oficialmente o único morro de Casa Amarela. Glória Aguiar, 78, tem uma boutique há cinco décadas na elegante Rua Ferreira Lopes, no mesmo bairro. As duas mulheres são o retrato de um bairro com várias faces e, por incrível que pareça, ainda desconhecido dos recifenses.

Muita gente não sabe, por exemplo, que Casa Amarela tem maior concentração de área plana que de morro. Amante do bairro, o arquiteto urbanista Geraldo Marinho conta que o desconhecimento da delimitação do território de Casa Amarela leva as pessoas a terem preconceito com o lugar, até hoje estigmatizado pelos morros que um dia fizeram parte do bairro.

O novo desenho de Casa Amarela, como de outros bairros do Recife, deu-se na década de 1980. Na época, explica Marinho, ele perdeu morros conhecidos como o da Conceição e o Alto José do Pinho, transformados em bairros independentes. Ainda hoje, moradores desses lugares se consideram habitantes de Casa Amarela. De alto, somente restou o Santa Isabel.

Saindo do morro em direção ao território plano, Casa Amarela não deixa nada a desejar a bairros fronteiriços, como Poço da Panela, Casa Forte e Parnamirim, no quesito infraestrutura. Por isso, também atrai moradores de classe média e alta, além do mercado da construção civil.

“Ele ficou ainda mais valorizado quando houve a restrição imposta pela Lei dos 12 Bairros em lugares como Casa Forte, Apipucos e Poço da Panela. Foi aí que descobriram Casa Amarela como uma área plana com grande potencial construtivo. E ainda tem muito espaço para crescer. Parte de Casa Amarela está na lei também, mas é possível construir mais do que nos demais”, explica o urbanista.

A área entre o Mercado de Casa Amarela e a Avenida Norte, por exemplo, ainda tem muitas quadras com casas e potencial para a construção de prédios. “Não digo se isso é bom ou ruim. Mas do ponto de vista do potencial permitido para construção, a transformação pode ser grande”, avalia Marinho.

Glória Aguiar, conhecida como dona da Glorinha Boutique, está há 50 anos vivendo na mesma casa, na Rua Ferreira Lopes, onde também mantém o negócio de vestimentas. “Aqui é muito tranquilo. Só lamento porque agora os ônibus estão passando e fazem muito barulho. Tenho um apartamento na Avenida Boa Viagem, mas prefiro viver aqui. Ainda é mais silencioso”, compara.

Fala povo

“Vim da Paraíba morar no Alto Santa Isabel há sessenta anos. Eu gosto daqui, mas antigamente era mais tranquilo, muito melhor de viver. A gente ficava na frente de casa e não tinha problema de violência e tanta droga.”
Sebastiana Maria Bezerra, 72 anos

“A diferença no tratamento com o povo do morro é grande. A limpeza das ruas somente acontece na época de politicagem. Mas continuamos sem água e saneamento o resto do ano. Toda casa funciona com fossa.”
Geni Gomes, 62 anos

“Minha vida é aqui. Ao mesmo tempo estou na minha casa e na minha loja. Na hora que quiser, deixo a vida profissional e vou descansar um pouco lá em cima. Aqui é uma tranquilidade, sem problemas e tantos barulhos.”
Glória Aguiar, 78 anos